REVISTA_de_JO_ESPM 20
82 JULHO | DEZEMBRO 2017 teúdo. Pode, também, significar um grande reequilíbrio do financiamento do jornalismo – nos moldes do apoio público à imprensa emvárias democracias. Paramuitos, os Estados Unidos precisamde uma radical intervenção nomercado, semelhante à que fez oReinoUnido em1922 coma criaçãoda BBC. Dada a realidadepolítica atual, uma opção mais viável seria que as próprias plataformas aju- dassem a bancar um empreendimento nesses moldes. COMORESOLVERO PROBLEMADE EDIÇÃO EMESCALA Plataformas dependem de algoritmos porque precisam operar em grande escala. O problema é que, embora um editor de carne e osso possa filtrar com relativa facilidade uma notícia obvia- mente falsa, para um algoritmo é bem mais difícil. Há maneiras de classificar tanto a informação como quem a publica – caso dos badges verificados do Twitter ou do Google PageRank. O Facebook está recrutando sites in- dependentes de checagem de fatos e avançando rumo a uma intervenção editorial maior na seção Trending Topics. Para a imprensa, isso impõe um sério dilema: dar às plataformas um poder maior de decisão sobre o ecossistema da informação, mas perder o controle co- mo intermediária. A busca de soluções algorítmicas traz, também, o risco de uma espécie de censura automatizada. Nas palavras de Jonathan Albright, professor assistente de comunica- ções da Elon University, nos Estados Unidos: A próxima era [das guerras da informação] provavel- mente resultará no filtromais difundidode todos: é pro- vável que normalize a eliminação de pontos de vista que estejam em conflito com interesses estabelecidos (…). Na próxima década, filtrosmovidos por inteligência artificial criados por empresas de tecnologia irão pesar a legitimidadeda informação antes queopúblico tenha a chance de determiná-la por si só. Essa intervenção na liberdade de expressão pode re- sultar demudanças compulsórias emalgoritmos ditadas por governos, de organizações que compram audiência em plataformas ou de empresas de plataformas ajustan- do seus algoritmos por esse ou aquele motivo. Seja co- mo for, a natureza opaca dessa filtragem traz um desa- fio para a função cívica do jornalismo em uma socieda- de democrática. A resposta pode, em última instância, exigir não só so- luções algorítmicas, mas uma “re-imaginação” do papel do jornalismo no ecossistema de informação. É como disse Ethan Zuckerman: Precisamos trabalhar mais pela construção de uma mídiaquenos leveaver outras perspectivas enos ajude a entender a complexa realidade política em que vive- mos. A resposta não é combater falsas notícias – é criar um jornalismo mais inclusivo, uma mídia que nos aju- de a entender gente da qual discordamos e gente que raramente ouvimos. Espaços cívicos como esses exigirão soluções huma- nas, não só algorítmicas. O PAPEL DO ESTADO E DAREGULAMENTAÇÃO Em uma carta aberta, Tim Berners-Lee sugeriu há pou- co que os princípios sobre os quais ergueu a World Wide Web há 28 anos hoje estão ameaçados pela perda de da- dos pessoais, pela disseminação da desinformação e pe- la evolução da publicidade política. Para combater esses males, sustentou, será preciso salvaguardar a privacida- de pessoal, construir sistemas alternativos de pagamento e combater a vigilância doEstado. Há umforte argumento para umamaior transparência algorítmica e umamelhor regulamentaçãode campanhas políticas, dizBerners-Lee. Emsuma, empresas de plataformas precisamreincutir os valores da web aberta em sua atividade. Muitas dessas ideias podemexigir o envolvimento de governos – uma ideia que não atrai simpatia nos Estados Unidos, apesar de uma longa história da regulamenta- ção da mídia pelo Estado. É, semdúvida, o caminho que outros países estão seguindo. Iniciativas propostas na União Europeia, na Alemanha e no Canadá imporiam freios ao mercado aberto das plataformas dominantes e, em certos casos, responsabilizariam financeiramen- te empresas pela disseminação da desinformação em suas plataformas. Outra possibilidade é que vejamos toda uma nova ge- ração de ações antitruste à medida que grandes platafor- mas entrarememsegmentos demercadomaiores e se ex- pandirem globalmente. Nopassado, a lei só interveiopara regular amídiaameri- cana quandopráticas comerciais nocivas fugiramao con- trole. As grandes mudanças foram feitas pelo mercado – e, nos últimos 20 anos, quase inteiramente pelas empre- sas de tecnologia do vale do Silício que examinamos em nossa pesquisa. No entanto, emummomento no qual re- lacionamentos, estruturas, normas e regras do meio jor- nalístico estão em fluxo, temos a oportunidade de per-
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