Revista de Jornalismo ESPM 21

12 JANEIRO | JUNHO 2018 IDEIAS + CRÍTICAS MARIA ELISABETE ANTONIOLI Convite à reflexão Seminário internacional reúne pesquisadores, alunos e interessados para debater tendências para o consumo, apuração e financiamento do setor de notícias a espmrealizou no dia 9 de outubro de 2017, emparceria com a Columbia Journalism School, o 1º Seminário Internacional de Jornalismo. Durante todo o dia, renomados jornalistas e pesquisadores brasileiros e america- nos discutiramomomento vivido pelo jornalismo e as alternativas para o seu fortalecimento. A abertura do evento contou com a presença do presidente da ESPM, Dalton Pastore, e do dire- tor de iniciativas latino-americanas da Columbia Journalism School, Ernest Sotomayor, que enfatizaram a impor- tância do evento e a parceria das ins- tituições para promovê-lo. Opresidente da ESPM, Dalton Pas- tore, defendeuumfundodebolsas para as faculdades brasileiras. “Estamos desperdiçando talentos. Assim como surgem diversos talentos no futebol que são exportados para o mundo, temos talentos que podem nos levar ao desenvolvimento. A maior parte dos talentos que nasce no Brasil a gente simplesmente ignora, e os que são descobertos vão para o exterior. A forma de não perder esses talen- tos é alimentando um fundo de bol- sas assim como ocorre nas universi- dades dos Estados Unidos”, afirmou. “Vocês sabem que uma educação de excelência custa caro e leva tempo, mas não temnenhum outro caminho que leve ao desenvolvimento, e pro- duzir conhecimento é uma das fun- ções da área acadêmica de excelên- cia. Assim é a ESPM.” A abertura oficial do evento foi feita por Carlos Ayres Britto, ex-pre- sidente do Supremo Tribunal Fede- ral (STF). Britto destacou o papel do jornalismo para o exercício da demo- cracia e o desenvolvimento do país. Sobre a imprensa, disse que é absolu- tamente necessária numa sociedade democrática. Para ele, “a imprensa bra- sileira é crítica. Ela forma opinião no âmbito da sociedade civil e dá a opor- tunidade para as pessoas conhecerem uma nova explicação que não a ofi- cial sobre tudo. Cumpre seu papel”. Segundo Britto, “a imprensa dota a sociedade da possibilidade do criti- cismo, da emancipação mental, da descolonização mental, porque você temna imprensa, como na brasileira, editorialistas, articulistas, pessoas do setor político, artístico... E a imprensa vai dotando a sociedade desse espírito crítico que precisamos para nos posi- cionar diante dos fatos e por nós mes- mos. A imprensa dá o start, e a par- tir daí os indivíduos passam a pensar por contra própria”. Ética e colaboração Em seguida, foi a vez de Steve Coll, diretor da Columbia Journalism School, responder às perguntas de Ernest Sotomayor e da plateia. Ele destacou que está emergindo com força cada vez maior uma manifesta- ção contra a proliferação de notícias falsas, em busca da transparência, da checagemde informações e de outras práticas ligadas à ética jornalística, o que fortalece a retomada da credibi- lidade da profissão. Para Coll, o trabalho do jornalista é cada vez mais necessário, uma vez que as novas tecnologias permitem que muitas pessoas tenham acesso a REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 13 O diretor da Columbia Journalism School, Steve Coll, responde a perguntas da plateia e do diretor de iniciativas latino- -americanas daquela faculdade, Ernest Sotomayor informações e possam divulgá-las. O reitor da Columbia tambémabordou a reportagem investigativa, e disse que têm acontecido muitas modificações nessa área, que vão exigir novas e anti- gas habilidades dos jornalistas. “Apri- meira razão paramudanças acontece- rem é que a estrutura da informação no mundo está sendo alterada, agora está organizada emum grande grupo de dados, que uma pessoa consegue baixar como clique de umbotão, como muitos casos que aconteceramnosúlti- mos anos, oWikiLeaks, o caso da Sony e de grandes corporações”, comen- tou o reitor. “Isso afeta a natureza de como ter acesso às informações no jornalismo investigativo. Quando se tinha uma fonte, ela mostrava dados e documentos secretos e ilegais, hoje não há como saber de onde a infor- mação veio, e isso cria desafios, mas por causa damudança da natureza da informação global o jornalismo inves- tigativo está se tornandomais colabo- rativo e mais internacional.” Steve Coll disse ainda que nos Esta- dos Unidos as empresas de notícias competiam fortemente e hoje há uma colaboração entre elas. “Na própria NewYorker vi editores que nunca tro- caram informações de uma investi- gação fora do jornal com ninguém e, agora, compartilham dados com boa vontade com outros jornais. O que percebemos é que a informação internacional que pode revelar esque- mas de corrupção ou fornecer refe- rências sobre o exercício do poder global é imensa – o que é ótimo, e a colaboração vai funcionar”, acrescen- tou. “Aqui no Brasil tenho certeza de que vocês conseguem fazer uso das informações online, visto que o país tem leis de informação aberta, e os jornalistas conseguem ter acesso às informações sobre a gestão e contas públicas.” Sobre a revolução tecnológica, Coll reiterou que o controle está nas mãos de poucas, mas grandes empresas, comoFacebook,Google,Netflix, Apple, Amazon, e que esse tipo de corpora- ção é diversificado assim como seu relacionamento com o jornalismo. Ele lembrou, por exemplo, queMark Zuckerberg continua afirmando que o Facebook não é uma empresa de mídia, apenas uma plataforma neutra. Ainda com relação a esse assunto, Ernest Sotomayor acrescentou que acredita na necessidade de boa for- mação dos jornalistas e crê que ainda hámuito a aprender sobre jornalismo e sobre sua evolução, como a relação desse campo com o uso de dados e de algoritmos. “Nosso desafio é lidar não só com estudantes que sabem como escrever e gravar, mas também com alunos que podemdesenvolver novas formas de jornalismo, adeptos a novas tecnologias”, resumiu. Acesso à informação No período da tarde, o seminário reu- niu debatedores emdois painéis. Um deles, como tema Consumo deMídia e Jornalismo, contou com a partici- pação de Patrícia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta; Celso Teixeira, diretor de comunicação da Rede Record; Paulo Tonet Camargo, presidente da Associação Brasileira NATÁLIA OSIS

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx