Revista de Jornalismo ESPM 21

14 JANEIRO | JUNHO 2018 Neste painel, entre diversos assuntos, foram discutidos os novos tempos do jornalismo e alguns dos lugares-comuns sobre as transformações da profissão foram reavaliados pelos palestrantes. Televisão Hoje émuito repetido o estereótipo de que o jovemnão assiste mais a TV aberta. Entretanto, um dos dados apresentados no painel mostra que 66 milhões de domicílios têm TV, de forma que se trata de um veículo muito presente no dia a dia do bra- sileiro. Ela ainda é a primeira fonte de informação na maior parte dos lares no Brasil e possui uma grande confiabilidade do público. O tempo médio de consumo da TV cresce a cada ano (com uma média de 6 horas por dia) e grande parte desse conteúdo é de material jornalístico. A segmentação foi uma das principais estratégias utilizadas para a manutenção da TV como um veículo importante – es- pecialmente na vertente do jornalismo regional. Dessamaneira, ela consegue competir com as redes sociais e se destacar pe- rante a nova geração. Confiabilidade do público e fake news Também foi discutida a questão da confiabilidade do público consumidor e a disseminação das informações falsas nas redes sociais, o que potencializa o fenômeno das fake news. Isso aumenta a responsabilidade dos jornalistas em suas decisões nomodo como eles vão contar as histórias – no enquadramento do fato, na construção da narrativa, na verificação das fontes relevantes para a matéria e, principalmente, na linguagem utilizada e no formato proposto. O cenário das fake news exige profissionais que acompa- nhem o ciclo de vida da informação, chequem e esclareçam os fatos para que cheguem às pessoas da forma mais apurada e completa possível. Consumo de mídia Hoje, o consumo demídia émuito diferente daquele de poucos anos atrás. As novas demandas trazidas pela velocidade e ra- pidez do consumo de informações e as modificações tecnoló- gicas trazem novas formas de produção. Essas mudanças, contudo, não são sempre óbvias. O senso comum de que os jornais tradicionais estão perdendo espaço, por exemplo, não se verifica completamente. Muitos deles diversificaram suas formas de financiamento e seus aportes tecnológicos e ganha- ram um alcance maior na esfera pública. Assim, os veículos não se excluem – eles se complementam. Liberdade de expressão A liberdade de expressão foi outro tema pautado. Embora nunca tenha havido tanta liberdade e espaço de fala, há tam- béma disseminação do discurso de ódio e tentativas constantes de cerceamentos dessa liberdade. O aumento dos espaços de poder de mídia traz esse paradoxo da liberdade, em que há o desafio de unir os novos ambientes comunicacionais com o excesso de informação que ele traz. Diante desse cenário, é necessário educar as pessoas para um consumo das mídias que não seja meramente polarizado. Jornalismo hiperlocal Algumas considerações apontadas se referem ao fato de que o jornalismo, para se destacar, deve ser mais regional e hiper- local. Além disso, os formatos devem variar para aumentar o interesse pelas reportagens, mesclando informações e intera- tividade com o leitor. Para isso, o treinamento constante dos jornalistas, a transparência e o diálogo com o leitor são fun- damentais. Mesmo comasmudanças tecnológicas, o jornalismo nunca foi tão relevante. Nesse cenário, a responsabilidade do jornalista é ainda maior e os fundamentos do jornalismo pre- cisam ser reafirmados. Os métodos jornalísticos precisam ser cada vez mais valorizados. Jornalismo independente O jornalismo independente é fundamental porque a sociedade precisa de pluralidade de informações para fortalecer proces- sos democráticos. Também é necessário criar mecanismos mais confiáveis de verificação de informação e uma educação para amídia que valorize a cultura para o debate. É necessária uma alfabetização midiática que desperte o senso crítico no modo como os jovens consomem as notícias. Fator humano A dimensão humana do consumo e produção das mídias foi resgatada. O fazer jornalístico é baseado no fator humano e é a atitude humana que mobiliza as pautas. As tecnologias de informação são expressões dos méritos e das falhas da nossa própria humanidade em seus embates com a história do nosso tempo. Consumo de mídia e jornalismo REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 15 Membros do painel sobre consumo de mídia Em debate, o jornalismo investigativo Fala do presidente da ESPM, Dalton Pastore de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert); Conrado Corsalette, cofun- dador e editor-chefe do Nexo Jornal e Ricardo Gandour, diretor-executivo de jornalismo da rádio CBN e profes- sor convidado domestrado emJorna- lismo da ESPM. Comentada por Celso Teixeira, uma pesquisa recente sobre hábitos de consumo da mídia pela popula- ção brasileira, realizada pela Secre- taria Especial de Comunicação Social (Secom), apontou que, mesmo com o crescimento da internet e do acesso às redes, o primeiro instrumento usado pelo público para consumir notícias é a televisão. Teixeira destacou que a televisão não é apenas um canal de notícias, mas também de entreteni- mento. Dessa forma, a internet dis- ponibiliza outra maneira de utilizar a TV. Com a incorporação de novas tecnologias, a televisão, com 67 anos de existência no Brasil, é reinventada. Conrado Corsalette revelou que no processo de criação do Nexo a ideia principal era ser um veículo escla- recedor e multimidiático. “Quando surgiu a internet, o jornalismo teve que lidar com ela”, relatou. Segundo ele, justamente por isso, é preciso sempre ter emmente que será a par- tir da história a ser contada que se definirá qual mídia deve ser usada, e não o contrário. Já Ricardo Gandour defendeu que o jornalista precisa se apoiar sobre três pilares essenciais e inexoráveis à profissão: a atitude, o método e a narrativa. “Atitude é aquela insatisfação em querer saber, descobrir; o método é para organi- zar, planejar, cruzar fontes, identifi- car todos os lados de uma questão; e aí complementar com uma narrativa agradável, atraente e clara”, expli- cou. Paulo Tonet Camargo disse que atualmente temos uma maneira de consumir mídia muito diferente. Há diversas formas de oferecer informa- ção e, segundo ele, hoje “é uma coisa fantástica a modificação da tecnolo- gia em favor do jornalismo indepen- dente, da informação de qualidade e de todos nós que trabalhamos na área”. Em relação a questões tec- nológicas e liberdade de expressão, Patrícia Blanco ressaltou o momento de liberdade que temos atualmente. Para ela, é preciso juntar um espaço onde todos têm voz, onde todos têm poder de mídia, onde temos a possi- bilidade de expor nossos pontos de vista, via rede social, via blog, usando todas as ferramentas possíveis, e, ao mesmo tempo, ouvir o outro nesse ambiente de liberdade (leia mais no boxe Consumo de mídia e jornalismo ). Apuração de qualidade O segundo painel do período da tarde teve o tema Jornalismo Investigativo, coma participação de Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunica- ções e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), que também res- ponde pela direção e orientação edi- torial desta revista; Diego Escosteguy, editor-executivo de Especiais no Info- globo; Marcelo Rech, presidente da AssociaçãoNacional de Jornais (ANJ); Thiago Herdy, repórter do Globo e então presidente da Associação Bra- sileira de Jornalismo Investigativo (Abraji); e Verônica Goyzueta, pro- fessora da ESPM e correspondente do jornal ABC , da Espanha. A necessidade de apuração jor- nalística séria em oposição às notí- cias falsas norteou o painel. “Redes Com a incorporação de novas tecnologias, a televisão, com 67 anos de existência no Brasil, é reinventada pela internet FOTOS JÚNIOR DE OLIVEIRA

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