Revista de Jornalismo ESPM 21

16 JANEIRO | JUNHO 2018 Nesse painel, a discussão girou em torno do conceito, da im- portância e dos riscos do jornalismo investigativo. Embora a própria expressão possa ser vista como um pleonasmo, como disseram os palestrantes, na realidade ela é importante para identificar uma especialização que reúne ferramentas e sabe- res específicos da profissão. O que é jornalismo investigativo O jornalismo investigativo não é uma redundância, é ummodo de fazer e de pensar um tipo de jornalismo que está no con- trole das investigações, que não se limita a reproduzir discursos ou descobertas de investigações lideradas por outras pessoas ou instituições. É um jornalismo que vai muito além da mera reprodução de aspas, porque assume o comando dasmatérias com rigor e independência. Espécie de ISO 9000 da informação Se o jornalismo em geral vive uma crise, se está difícil diferen- ciar o jornalismo profissional em meio à grande quantidade de informações circulando nas redes sociais, o jornalismo in- vestigativo é decisivo para afirmar a relevância da atividade. Nesse sentido, o jornalismo tem que ser uma espécie de ISO 9000 da informação, um certificador capaz de qualificar o debate público. Avanço nas técnicas Para fazer jornalismo investigativo, atualmente, é importante que os jornalistas avancem em técnicas de análise de dados, que se atualizeme dominemnovas ferramentas que os ajudem a investigar fatos e trazer à tona eventos que, sem a ação do jornalista, permaneceriam obscuros. Isso é especialmente verdadeiro no atual cenário de crise política e econômica, no qual avança uma onda que não é apenas conservadora, e sim uma onda de desinformação, de notícias falsas e manipulado- ras que alcançam enorme repercussão. Mas é preciso lembrar que esse jornalismo investigativo, que requer domínio de técnicas sofisticadas de análise e tam- bém grande disponibilidade de tempo, custa caro. Riscos O jornalismo investigativo envolve riscos concretos. O Brasil é o segundo país mais perigoso das Américas para a prática do jornalismo emgeral. Fora o risco de vida, há o risco de censura judiciária, de multas e prisões. As ameaças ao jornalismo e à democracia são constantes. Apoio ao jornalismo A sociedade precisa entender o valor do jornalismo e sustentar a sua realização, sejapormeiode apoiopúblico, por assinaturas, por doações diretas ou outras formas de financiamento ou res- paldo. Não há um caminho definido para isso. Nos últimos anos temos assistido à multiplicação de ONGs de jornalistas em pa- ralelo a novas experiências de financiamento em veículos tra- dicionais, que tentam reduzir a dependência de publicidade. Cabe à sociedade então decidir que modelo de jornalismo quer financiar e como. Para tanto, é fundamental investir na educação das novas gerações de leitores e de jornalistas. Jornalismo Investigativo O ex-ministro Ayres Britto abre o seminário Maria Elisabete Antonioli faz balanço do dia Sotomayor conversa com repórter da ESPM JUNIOR DE OLIVEIRA ROBERTO BRAGA ROBERTO BRAGA REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 17 sociais sãomecanismos de difusão de fake news. As pessoas precisam saber de onde vêm as informações”, disse Eugênio Bucci. Para Marcelo Rech, “o enfraquecimento do jornalismo pode levar à catástrofe, como a ame- aça à democracia”. Diego Escosteguy questionou: “É preciso se pergun- tar se o trabalho que está fazendo é relevante para alguém”. Verônica Goyzueta lembrou a importância de pagarmos para termos umbom jorna- lismo investigativo. Segundo ela, jor- nalismo é caro, o investigativo é mais caro ainda, porque, dependendo do risco, da dificuldade, isso custamuito, e o repórter precisa ser remunerado. Thiago Herdy lembrou do momento político e econômico que estamos vivendo. Para ele, “em um cenário como esse a certeza é clara: precisa- mos de jornalismo”. Entre os temas abordados, esta- vam ainda os desafios enfrentados atualmente na produção de conteúdo que tenha a investigação como base. “Temos a reprodução do que fontes policiais estão dizendo, o que não é muito saudável”, disse Bucci. “Não podemos ser reféns das fontes oficiais”, complementou Escosteguy (leiamais no boxe Jornalismo investigativo ). Em tempos de crise na produção do jornalismo, divulgação de fake news, desconfiança, censura, ampliação dos perigos de exercer a profissão e crise dos modelos de financiamento, uma das saídas apontadas pelo 1º Semi- nário Internacional de Jornalismo ESPM/Columbia JournalismSchool é o estabelecimento de uma parceria da imprensa coma sociedade para forta- lecer e expandir a atividade. Para encerrar Ao final do seminário, como coor- denadora do Mestrado Profissional em Produção Jornalística e Mercado (MPPJM) e da graduação em Jorna- lismo da ESPM, fiz algumas conside- rações sobre os desafios da carreira e sobreanecessidadede renovaçãocons- tante. Tambémapontei como possibi- lidade de aprimoramento a força cada vez maior que se estabelece na rela- ção entre os cidadãos, o jornalismo e suas novas formas de financiamento. Afinal, a sociedade precisa entender o valor do jornalismo e dar suporte à sua realização. Seja por meio de apoio público, por assinaturas, por doações diretas, ou outras formas de financia- mento ou respaldo. Não há um cami- nho definido para isso. Cabe à socie- dade decidir que modelo de jorna- lismo quer financiar e como. Para tanto, é fundamental investir na edu- cação das novas gerações, dos leito- res e jornalistas. Além disso, procurei destacar a importância do seminário para a vida prática tanto para o jornalista profis- sional, como para recém-formados e estudantes de jornalismo, pois eventos como esse trazem à discussão temas da atualidade, com a reflexão sobre o fazer jornalístico. O encerramento do evento foi feito porDaltonPastore eErnest Sotomayor. O2º Seminário Internacional deJor- nalismo ESPM/Columbia Journalism School já está comdatamarcada para 15 de outubro deste ano. ■ maria elisabete antonioli é coordenadora do Mestrado Profissional em Produção Jornalística e Mercado (MPPJM) e da graduação em Jornalismo da ESPM. É necessário criar mecanismos mais confiáveis de verificação de dados e uma educação para a mídia que valorize a visão crítica do público Preparativos para o início dos trabalhos Inscritos aguardam abertura do auditório E lotam a plateia na cerimônia de abertura FOTOS ROBERTO BRAGA

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