Revista de Jornalismo ESPM 21

28 JANEIRO | JUNHO 2018 Menos de 24 horas depois de publicar umamatéria emque cinco mulheres acusavam o jornalista Mark Halperin, do canal a cabo MSNBC, de assédio sexual, Dylan Byers, jor- nalista da CNN especializado em mídia e política, escre- veu no Twitter: “Apenas hoje, cinco pessoas denunciaram cinco personalidades da mídia. Isso não vai parar, vai ficar cada vez pior”. Tudo indica que a carreira de Halperin acabou quando ele se afastou de seu cargo de analista polí- tico da MSNBC. Por causa do escândalo, a HBO cancelou os planos para adaptar para a TV o livro deHalperin sobre as eleições americanas de 2016, escrito com o jornalista John Heilemann – a própria publicação do livro, pela edi- tora Penguin Press, também foi cancelada como resultado das acusações contra Halperin. Conforme surgiam novas histórias sobre a conduta reprovável atribuída a Halperin, O’Reilly e vários outros, como Leon Wieseltier, da New Republic – revista de viés progressista, fundada em1914, que traz artigos sobre polí- tica e arte –, o foco do debate cresceu para incluir as pes- soas que sabiam desse comportamento e ficaram quietas e tambéma cultura que permite que esse tipo de compor- tamento seja aceito. ClioChang, do site Splinter – especia- lizado em artigos e notícias sobre política –, publicou um ensaiomuito interessante, no qual explica queWieseltier sempre se escondeunamultidão. “Essas denúncias desper- tam questões incômodas sobre o que os meios de comu- nicação e o universo literário valorizam e em quem nós confiamos. Afinal, o caráter de Wieseltier estava aí para quem quisesse julgar – se você estivesse prestando aten- ção”, Chang escreveu. Uma das razões para que esse tipo de comportamento continue é a falta de empenho das instituições para lidarem comseus próprios problemas. AFoxNews dedicou umdia inteiropara a cobertura do escândalodeHarveyWeinstein, financiador do Partido Democrata. Porém, David Bauder, da Associated Press, observou emuma matéria para a AP que a mesma Fox News dedicou apenas 20 minutos e 46 segundos às acusações contra O’Reilly, desde que o New York Times divulgou as primeiras matérias, em abril de 2017. O’Reilly, vale lembrar, foi uma estrela da Fox News durante os 20 anos em que apresentou o O’Reilly Show na emissora. A maior parte dos 20 minutos de cobertura sobre ele foi feita por Howard Kurtz no Media Buzz , um programa da Fox News que vai ao ar aos domingos, vol- tado para a indústria da comunicação. No caso deWeins- tein, as primeiras reportagens foram publicadas no iní- cio de outubro de 2017 e renderam 12 horas e 30 minutos de programação da Fox News. Essa diferença gritante é Isso não vai parar por aqui O caos criado com as revelações sobre a má conduta de jornalistas, artistas e produtores torna-se o estopim para novos relatos. Para onde esse momento de ruptura vai levar? por pete vernon normalmente, tento escrever sobre vários temas, mas o caos criado pelas denúncias sobreHar- vey Weinstein – no jornalismo e também fora dele – é o assunto que está dominando o mundo da comunicação. Weinstein, o todo-poderoso produtor de cinema, e Bill O’Reilly, o todo-poderoso âncora da Fox News, podem ser o centro das atenções, mas a alma dessa história são as denúncias constantes contra personalidades da indústria da comunicação. REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 29 sintoma de uma empresa que não quer organizar a casa. Tempos após as repórteres Jodi Kantor e Megan Two- hey, do New York Times , revelarem o “segredo público” deWeinstein, o caso não perdeu forças. Abaixo, resumos de reportagens que escolhi para a newsletter emque esta matéria foi publicada originalmente mostram que esta- mos emummomento decisivo – ummomento de ruptura: A dúvida é sábia: Jill Abramson, ex-editora execu- tiva do New York Times , escreveu no Guardian sobre as precauções que devemos tomar antes de anunciar uma nova era na cultura corporativa de uma organi- zação. Ela está investigando denúncias de assédio em uma empresa, mas não consegue entrevistar ninguém por causa de acordos de confidencialidade. Weinstein e Trump: Anna North e Ezra Klein, do site de notícias Vox, explicam por que Harvey Weinstein caiu em desgraça enquanto Trump é presidente. Confusão no BuzzFeed: O BuzzFeed está mudando sua abordagem na cobertura de Hollywood depois de identificar erros no caso Weinstein. A conta sempre chega: Drew Magary, do Deadspin, site especializado em cobertura esportiva, abre o jogo sobre a própria história demau comportamento online. “Tentei me acertar com meu passado online, mas sei que não terminei o trabalho. Os homens não podem simplesmente pedir desculpas para consertar as coi- sas. Só existe um caminho: a determinação de encarar o homemque você foi e perguntar se é esse homemque você quer ser”, conta Magary. Novas denúncias contra Halperin: Paul Farhi, do Washington Post , entrevistou novemulheres que foram vítimas ou testemunhas das investidas de Halperin durante seuperíodono canal ABCNews. Uma das entre- vistadas concordou emse identificar ao falar comFarhi. Arquivo aberto: A revista Vanity Fair disponibilizou no formato online, pela primeira vez, umperfil de Leon Wieseltier feito em 1995 por Lloyd Grove. ■ pete vernon trabalha na redação da CJR . Seu Twitteré @ ByPeteVernon. Texto originalmente publicado em 27 de outubro de 2017 em www.cjr.org

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