Revista de Jornalismo ESPM 21

REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 5 E m 15 de outubro de 2017 a atriz americana Alyssa Milano convocou suas seguidoras nas redes sociais a relatarem experiências de abuso sexual pela hashtag #MeToo. Dias antes estourara o escândalo envolvendo o produtor de cinema HarveyWeinstein, que praticava havia anos o chamado casting couch no olimpo hollywoodiano – o que por aqui é conhecido como “teste do sofá”. Em um único dia, a hashtag foi usada 109.451 vezes, e a postagem da atriz foi compartilhada mais de 20 mil vezes. É pouco? Pois o “efeito Weinstein” se espalhou e identificou centenas de homens que foram acusados de assédio e/ou abuso sexual. Entre os mais famosos e influentes estão o cineasta Oliver Stone, os atores Ben Affleck e Dustin Hoffman, o jornalista Michael Oreskes e políticos, como Michael Fallon, ministro da Defesa britânico, e o ex-presidente dos Estados Unidos George H.W. Bush. Outro caso chocante foi o de Larry Nassar, médico da equipe de ginástica americana, denunciado de ter cometido violência sexual contra 158 mulheres e meninas durante os 22 anos em que ocupou o cargo. Omovimento #MeToo roubou a cena mundial e foi eleito figura do ano, capa da revista Time emdezembro de 2017. Desde o surgimento da hashtag , cerca demetade das publicações foram feitas fora dos Estados Unidos. Mas nem toda a publicidade foi positiva. Para começar, na capa da Time ficou faltando a ativista Tarana Burke, que em 2007 criou o sloganMe Too para alertar sobre como casos de abuso sexual são comuns. Outra polêmica se deu no dia seguinte à premiação do enlutado Globo de Ouro, no qual a apresentadora Oprah Winfrey fez um discurso contra a violência sexual e o racismo. O jornal Le Monde publicou um manifesto assinado por uma centena de personalidades francesas com críticas às campanhas contra o assédio sexual, acusando-as de puritanismo. O documento dizia que o direito dos homens de importunar as mulheres era conquista da revolução sexual feminista e deveria ser defendido. Já no Brasil, que teve entre seus trending topics as hashtags #ChegaDeAssédio, #Chegadefiufiu e #primeiroassedio, o #MeToo parece não ter feito tanto sucesso. Talvez porque não seja fácil para vítimas de abuso questionadas sobre as roupas que usavam no momento do ato, e que temem ser responsabilizadas pela agressão sofrida, levantar a voz contra seus algozes. Mas nem tudo está perdido. Iniciativas como essas ou como o coletivo #jornalistascontraoassedio são passos decisivos na mudança da cultura do silêncio. ( ANA HELENA RODRIGUES ) roubou a ceNa Tá na rua, tá on, tá aqui .

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