Revista de Jornalismo ESPM JUL-DEZ_2018
presidente Dalton Pastore vice-presidentes Alexandre Gracioso e Elisabeth Dau Corrêa diretoria Flávia Flamínio (diretora de operações acadêmicas), Luiz Fernando Garcia (diretor de educação continuada) conselho editorial J. Roberto Whitaker Penteado, Eugênio Bucci, Carlos Eduardo Lins da Silva, Caio Túlio Costa, Judith Brito, Maria Elisabete Antonioli e Ricardo Gandour REDAÇÃO DA REVISTA DE JORNALISMO ESPM editor Carlos Eduardo Lins da Silva editora-associada Ana Paula Cardoso direção de arte Eliane Stephan editora-assistente Anna Gabriela Araujo assistente de arte Marciana Barros coordenadora editorial Lúcia Maria de Souza assistente editorial Ana Helena Rodrigues tradução Ada Félix e Mário Bucci revisão Bia Mendes A Revista de Jornalismo espm é uma publicação semestral da ESPM, com conteúdo exclusivo da Columbia Journalism Review endereço Rua Doutor Álvaro Alvim 123 - Vila Mariana - São Paulo - SP - CEP 04018-010 editorial 11 5085-4643 e-mail rj@espm.br informações 11 5085-4508 e-mail revista@espm.br assinaturas assinatura@espm.br | www.espm.br diretor da columbia journalism school Steve Coll chairman Stephen Adler diretor de redação e publisher da cjr Kyle Pope editora executiva Betsy Morais editora digital Nausicaa Renner editor de mídia digital Justin Ray editor-associado Brendan Fitzgerald chefe de redação digital Mathew Ingram redação Alexandria Neason, Pete Vernon, Jon Allsop, Meg Dalton e Karen K. Ho editor do tow center for digital journalism Sam Thielman editores colaboradores Gabriel Snyder e Michelle Legro assistente de redação Kelsey Ables A Columbia Journalism Review é uma publicação trimestral da Columbia University Graduate School of Journalism. A Revista de Jornalismo ESPM (ISSN 2238-2305) é uma publicação semestral Ano 7, Número 22, Julho - Dezembro de 2018 Imprensa livre, Democracia forte A Revista de Jornalismo ESPM é uma publicação pluralista e apartidária, que convida e acolhe autores das mais diversas inclinações ideológicas e acredita na virtude do diálogo como forma de gerar conhecimento. Os artigos assinados refletem única e exclusivamente a opinião de seus autores, não representando, portanto, os pontos de vista da equipe de redação, de seu conselho editorial ou da ESPM. REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 3 ministros do supremo tribunal federal (stf) provocam estupefação em colegas americanos quando lhes relatam o número de casos que julgam. Nos Estados Unidos, eles se li- mitama, nomáximo, poucomais de uma centena a cada ano; aqui, chegam a dezenas de milhares. Além de decidir essa enormidade de recursos, o STF chama para si outras fun- ções: é uma espécie de tribunal criminal de autoridades do Executivo e do Legislativo que gozam de foro privile- giado e, por fim, deve decidir o que é ou não é constitu- cional. Diante disso, não surpreende que tenha alcançado tamanha proeminência – o que se dá, também, emrazão da péssima reputação dos outros dois poderes: o Legislativo está coalhado de parlamentares acusados dos mais diver- sos crimes e, noExecutivo, o atual presidente da República é um dos mais impopulares da história. O Supremo brilha sozinho – e não se recusa a brilhar sozinho. Cada vez mais. Suas sessões são transmitidas ao vivo pelo YouTube e pela TV Justiça. Depois, cenas emais cenas rebrilham nos telejornais. A rotina do STF se asse- melha a um reality show , commilhões de espectadores. Os ministros do STF viraramestrelas midiáticas, comdireito a chiliques e exibição de vaidades (nem sempre apenas intelectuais). Por vezes, munidos de seus equipamentos de comunicação, parecem dispensar a imprensa. Comu- nicando-se diretamente com o público, falam sobre tudo e mais um pouco. Talvez esteja se conformando no Bra- sil novo tipo de bonapartismo: aquele que, nesta edição, decidimos chamar de jusbonapartismo (veja página 12) . Nesta hora, uma luz amarela deveria se acender. Quando, além de servir como garantidores da Constituição, os ministros do Supremo rivalizamcom legisladores e gover- nantes e passam a impressão de quererem liderar a opi- nião pública, a imagem de imparcialidade da magistra- tura pode se arranhar. Nos Estados Unidos, essa preocu- pação é antiga. Em janeiro, uma pesquisa publicada na revista acadêmica Political Communication, de autoria de MatthewHitt (da Colorado State University) e Kathleen Searles (da Louisiana State University), analisou a cober- tura feita pela imprensa de casos relevantes julgados pela Suprema Corte dos Estados Unidos entre 1990 e 2010 e a relacionou com pesquisas de opinião pública no mesmo período sobre a imagemda corte. Eis a conclusão do estudo: quando as pessoas entendem que os debates na Suprema Corte ocor- rem em função de princípios da correta interpretação das políticas públicas, a boa avaliação do órgão cresce; quando, no entanto, preva- lece a sensação de que os juízes dis- cutem interesses político-partidá- rios ou pessoais, a avaliação piora. ASuprema Corte americana anda em baixa junto à sociedade ame- ricana pelo menos desde 2000, quando arbitrou a con- testada eleição presidencial entre George W. Bush e Al Gore com os nove juízes claramente votando em fun- ção de convicções políticas. Se os cidadãos acham que os juízes da corte defendem interesses, a reputação da Justiça vem abaixo. Mas lá, nos Estados Unidos, a Suprema Corte sabe se resguardar. As sessões não podem ser transmitidas ao vivo. Nem a entrada de câmeras fotográficas é permitida. Os debates entre juízes não são gravados (o público só sabe o que disseram por meio de relatos de repórteres). O público nunca ouviu um bate-boca numa sessão da Suprema Corte. Imagine-se o nível do descrédito se os americanos vissem na televisão um juiz dizer a outro: “Você é uma pessoa horrível, uma mistura do mal com atraso e pitadas de psicopatia”. Imagine-se o vexame se o ofendido retribuísse dizendo ao ofensor que ele deve- ria “fechar o seu escritório de advocacia”. Enquanto isso, no Brasil, o prestígio do STF já não é dos mais altos entre os cidadãos brasileiros: só 24% confiam nele, segundo omais recente Índice de Confiança na Jus- tiça da Fundação Getulio Vargas, de outubro de 2017. Se o estrelismo e o histrionismo não mudar, o quadro pode se degradar ainda mais. Talvez seja hora de entender- mos que o papel da cúpula do Judiciário não é o de sediar reality shows de mau gosto. Em uma corte tão alta, a vai- dade deveria ficar do lado de fora. Ministros não deve- riam copiar cacoetes de âncoras de telejornais, ou de ani- madores de auditório. Principalmente, não deveriamcha- mar para si o papel que cabe à imprensa. O estrelato não costuma combinar com a magistratura, assim como o ato de julgar não coaduna com o difícil e indispensável papel de informar o público de modo independente e crítico. ■ Corte suprema ou suprema mídia? EDITORIAL
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