Revista de Jornalismo ESPM JUL-DEZ_2018
56 JULHO | DEZEMBRO 2018 O assédio ganha as telas, ao vivo por britni de la cretaz Além de arena esportiva, a Copa do Mundo foi palco de agressões sexuais contra mulheres à frente das câmeras juliethgonzález therán fazia uma transmissão ao vivo durante aCopa do Mundo da Rússia, em julho, quando um homem correu e tascou um beijona bochecha da jornalista colom- biana. Ela continuou com a reporta- gem, no ar, durante quatro minutos, como se nada tivesse acontecido. The- rán não foi a única jornalista a sofrer assédio sexual na frente das câme- ras durante o campeonato mundial, pelo menos duas outras repórteres passaram por situações parecidas [uma delas foi a brasileira Julia Gui- marães, da SporTV]. Após o episódio, a DeutscheWelle, para quemTherán trabalha, divulgou um comunicado no Twitter conde- nando o assédio e o abuso sexual no futebol e emqualquer outra situação. AprópriaTherán fez umpost sobre o caso em seu perfil no Instagram: “RESPEITEM! Nós não merecemos esse tipo de coisa. Somos igualmente capazes e profissionais. Eu comparti- lho da alegria do futebol, mas preci- samos entender o limite entre o entu- siasmo e o assédio”. O assediador pediu desculpas a Therán via Skype, mas não revelou seu nome. Apoio da chefia A Deutsche Welle também se pro- nunciou sobre o assédio que Therán sofreu. De acordo com Christoph Jumpelt, porta-voz da emissora, The- rán se reuniu com a chefia da reda- ção em Moscou. Durante o encon- tro, a jornalista pôde avaliar se que- ria continuar trabalhando na Copa do Mundo ou não (ela escolheu con- tinuar). A Deutsche Welle acrescen- tou uma quarta pessoa à equipe de Therán, que até o momento do assé- dio era composta pela repórter, um operador de câmera e outro colabora- dor para evitar interrupções ou ame- aças. “Temos algumas regras bási- cas em nosso trabalho, por exem- plo: ‘Você não manda alguém sozi- nho [para amultidão] ’”, explica Jum- pelt. “Nesse incidente específico, esse sistema não foi rápido o suficiente. Nós incluímos mais uma pessoa na equipe para garantir que isso não se repita.” ADeutscheWelle não autori- zou Therán a dar novas declarações, explicando que ela já tinha manifes- tado duas vezes o seu desejo de retor- nar ao trabalho. A CJR falou com várias jornalistas que sofreram alguma forma de assé- dio diante das câmeras, para enten- der como as empresas de comunica- ção em que elas trabalham reagem a essas violações. As empresas ofe- recem licenças, terapia e permitem que as jornalistas avaliem se querem continuar a trabalhar nos locais em que o assédio ocorreu. As repórteres explicaram que as redações levaram os casos muito a sério, com cuidados especiais para os efeitos psicológicos de longo prazo do assédio durante o trabalho. As respostas foramadequa- das, mas nem sempre é assim que as coisas se passam. Em maio, a repórter Maria Fer- nanda Mora, da Fox Sports México, falava de Guadalajara, onde o Chi- vas ganhara o campeonato da Con- cacaf (Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe). REVISTA DE JORNALISMO ESPM | CJR 57 “Percebi que umgrupo de homens foi chegando cada vez mais perto. Eles estavam cantando e ficaram atrás de mim. Enquanto eu falava, um deles me tocou no bumbum”, explicou por e-mail. O resultado aparece nos vídeos da emissora: Mora acerta um dos homens com o microfone e sai do quadro, uma cena que viralizou na internet. Mora diz que jáhavia sido assediada enquanto fazia reportagens, epensana possibilidade de novos abusos quando trabalha emmultidões. “Tenhomedo de que aconteça de novo e eu precise passar outra vez pelos mesmos pro- blemas”, conta, referindo-se às amea- ças virtuais e ao assédio online depois do caso ocorrido em maio. A Fox Sports México protegeu Mora, ela conta. “Meus chefes e o Departamento de Recursos Huma- nos me deram muito apoio. O vice- -presidente me ligou por vários dias, alguns dias mais de uma vez, para perguntar como eu estava me sen- tindo”, lembra Mora. A empresa se ofereceu para pagar terapia, e desta- A repórter Julieth González Therán, da Deutsche Welle, foi beijada ao vivo durante a Copa do Mundo da Rússia, em julho. Depois que Therán e a DW se pronunciaram contra o assédio e o abuso sexual, o agressor pediu desculpas FOTOS DIVULGAÇÃO/DW SPORTS
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