Revista da ESPM - JUL-AGO_2007

na televisão e nas mídias digitais. Retomando as teses do antropólogo Mo r i n, notamos que neste plano da produção imagética somos transpor– tados para um momento mágico, no qual a posse da representação equivaleria - por contiguidade - à posse do representado. Não por acaso, desenvolvemos re– lações da mais densa afetividade com nossos aparelhos de enunciação imagética: alguns preferem cumpri– mentar suas tevês, outros escolhem se emocionar com imagens capturadas por câmeras digitais. Como apontado pelo artista e teórico americano Tom Sherman, em um delicioso artigo intitulado "Machines R Us...", cer- camo-nos de equipamentos eletrôni– cos como bebês desesperadamente carentes, ávidos pela ampliação de nossa zona de conforto. Bebês domi– nadores e antropomórficos, diga-se de passagem, que carregam seus objetos tecnológicos como senhoras elegantes conduzem seus perfumados "lulus". Mais fiéis do que cães, mais humani– zadas que qualquer humano, tão amáveis quanto o mais prestimoso companheiro, mais reais que o mais fascinante "amigo imaginário", mais disponíveis que qualquer analista, assim seriam as máquinas, aquelas mesmas que, ao chamarmos de nos– sas, também agregam valor àquilo que chamamos de nós mesmos. Para Sherman, a relação de c o n– fiabilidade que se estabelece c om o u n i v e r so maquínico p e r m i te uma sugestiva redefinição da d i– cotomia público/privado. Naquela que autores contemporâneos vêm d e f i n i ndo c omo uma cultura da conectividade, cria-se uma relação de dependência c om as máquinas, das quais se necessitaria tanto para olhar para a q u i lo que nos é ex– terno quanto para o nosso próprio interior. Em um tal contexto, não é de es– tranhar o fascínio experimentado ao nos tornarmos espectadores de imagens geradas através do regis– tro obtido por câmeras ocultas. O inelutável sucesso dos flagrantes exibidos em programas televisivos apenas confirma e torna exponen– cial tal encanto. É também digno de nota o prazer c om que proprietários de telefones celulares portadores de câmera fotográfica registram, a seu bel prazer e de modo "des– pistado", pessoas que as cercam, sejam estas suas amigas ou mesmo a b s o l u t a m e n te d e s c o n h e c i d a s. V i v e n do da perversão s u g e r i da por esta limiaridade, encontramos igualmente os paparazzi, sequiosos por transformar em imagem pública (on-line) a i n t imi dade off-line de celebridades. São máquinas que nos a c o m p a– nham, são máquinas que nos pro– tegem de nós e dos outros, são máquinas que nos c o l o c am em relação c ono s co e c om os outros, consentida ou compulsoriamente e, o que agora nos interessa, são má-

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx