Revista da ESPM - JUL-AGO_2007
G R A C I O SO - O termo "sociedade pós-moderna" é, certamente, uma tentativa de expandir o conceito do pós-modernismo, a princípio as– sociado apenas à arte. Não é fácil defini-lo, porque - ao contrário de "sociedade pós-industrial", em que sabemos exatamente por que ela é pós-industrial - no caso da socie– dade pós-moderna estamos lidando c om c ompo r t amen t o, atitudes, o lado psicológico das pessoas, diante de um mundo e de uma sociedade cada vez mais complexos, difíceis de interagir. Podemos dizer - embora isso também seja discutível - que esta sociedade provoca, nas pessoas, uma angústia cada vez maior, que se procura aliviar de várias maneiras: uma delas é pela fuga à realidade. Por e x e m p l o, p a s s a n do mu i t as horas assistindo a espetáculos de todos os tipos, que nos encantam e fazem esquecer. A c ho que cada um de nós poderia começar opinando sobre isso. N uma segunda etapa, tentaríamos entender a interação que está havendo entre esse tipo de sociedade e a comunicação. PONDÉ - A c ho que o conceito de pós-modernidade é bem claro para a inteligência acadêmica, teórica, no sentido que foi sendo cunhado: uma espécie de ampliação do pós- modernismo, da discussão artística e estética. Ao analisá-lo, penso que seja um conceito que a academia e a mídia foram construindo para dar conta de uma série de fenômenos. Encontramos pessoas que d i z em: "Nietzsche é um ancestral da pós- mode r n i dade ", ou seja, um autor do século XIX. Outros dirão: "Não, M i c h el Foucault é que é pós-moder- no "; um contemporâneo do Lyotard, de Paris-8.. Devo lembrar que todo conceito é artificial, os conceitos são artificiais; quando a gente inventa a periodização histórica - i dade antiga, idade média - isso tudo é artificial, foi criado após os fatos.. Percebo esse conceito de pós-moder– nidade c omo a nossa característica bem contemporânea, de uma socie– dade que marcha em direção a uma certa artificialidade. Também vejo a pós-modernidade c omo um luto em relação à modernidade. O período moderno apresenta associações en– tre ciência, capitalismo desenvolvi– do, indústria, um t ens i onamen to c om a religião - pe lo menos no plano do pensamento. A pós-moder- n i dade é um certo mal-estar em relação às utopias modernas. Somos realmente capazes de compreender o mundo? Não só parecíamos c a– pazes de compreender o mundo, c omo éramos c a p a z es de trans– formá-lo, a partir de um raciocínio pautado numa observação empírica, científica, na previsão de fatos, na descrição de eventos.. Essa é uma das questões que me parece mais interessante na pós-modernidade, para além da angústia. Há um livro do Smith, se não me engano, que comenta Zygmunt Baumann, o pro– feta da modernidade, que faz uma brincadeira c om o mito da caverna: na caverna da pós-modernidade, acorda-se no meio da noite e vê-se uma luz que vem do fundo da sala, de um buraco na parede da sua sala; você se ap r ox ima do buraco e vê que há um mundo do lado de fora que é irreconhecível em seus códi– gos e hábitos. Esse mundo tem um abismo, passarelas, as pessoas falam línguas que você não entende, c om gestos que você não entende, ves– tem-se de forma estranha.. Aí, você pega o seu guia de sobrevivência da modernidade - aquelas teorias todas montadas para ajudar a entender e transformar o mundo - mas não adianta. Qu a n do você sai pelo b u– raco, percebe que o seu código não funciona, você não tem o sistema - o seu livro, o seu manual não está c on s egu i ndo representar perfeita– mente o que acontece. Então, não sei até que ponto essa coisa de pós- mode r n i dade não é o começo de um processo de percepção da ilusão que foi a utopia moderna. Q u em diz que as teorias produzidas ao longo da c hamada modernidade de fato explicam alguma coisa? Ou que exista alguma chamada dialética e que se conseguirá transformar o mundo, a partir de uma dialética histórica? Nesse contexto, para mim, o c o n– ceito de pós-modernidade a c aba tendo realidade concreta, c omo um instrumento para c omp r e e nd er o mundo, talvez, antes de tudo, c omo instrumento para compreender uma sobreposição da emoção às utopias racionais, científicas. Sempre existiu emoção e a pós-modernidade acaba mantendo um certo vício moderno, de achar que as nossas teorias c o n– tinuam c omp r e endendo o mundo e a gente continua a ser c apaz de transformar o mu n d o. Vem-me à cabeça uma imagem de Emerson, filósofo americano do século XIX:
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