Revista da ESPM - JUL-AGO_2007
Fala-se do shopping center c omo a catedral da pós-modernidade, símbolo do espetáculo; mas, antes, se discutia a loja de departamento. E o pavor moral em relação a esse espetáculo estava lá, no século XIX, em relação à loja de departamento - o medo que aquilo afastasse as mu– lheres dos seus deveres domésticos.. A verdade é que o prazer, o desejo, são apavorantes para o ser humano. No fundo, há o medo de encarar es– sas questões, daí o tom negativo. É claro que parcelas de conhecimento sobre o mundo físico, biológico, têm uma metodologia mais organizada do que sobre o mundo social; mas v e jo a pós-modernidade ma is c o mo um fenômeno acadêmico do que sociológico. Con c o r do c om M i ke Featherstone em que, ao invés de uma ciência social pós-moderna, deveríamos fazer sociologia da pós- modernidade, para tentar explicar por que essas questões c a l a r am tão fundo no ambiente acadêmico; durante um período, por exemplo, deixou-se de fazer antropologia para se discutir c omo fazer etnografia. Essa visão da s o c i e d a de c o mo um texto, ou da cultura c omo um texto, é específica da modernidade. Baudrillard só decodifica sentidos, c omo se não existisse uma vida real e as pessoas seguissem, nas suas práticas sociais, o significado que ele atribui aos signos. Esse é outro problema, porque quando se lê a cultura, a sociedade c omo um texto, tudo se baseia na interpretação e a interpretação é subjetiva - e quanto maior a capacidade interpretativa e literária do autor, melhor parece a sua interpretação... E, em relação à interpretação e esse embasamento empírico, existe uma grande d i– ferença. Frank C o c h o y, francês, que esteve recentemente na ESPM, falou sobre o marketing americano na visão de um francês. Ele tem um artigo interessante, em que começa analisando um maço de cigarro no estilo de B a ud r i l l a r d: o louro do fumo remete ao louro da mulher e, assim, sucessivamente; depois, ele remete a sua análise para as coisas concretas que aparecem num maço de cigarros. Aí vê-se c om clareza a ambigüidade, essa ancoragem num simbólico que, às vezes, é mais fruto da interpretação daquele cientista social do que efetivamente c omo as pessoas v i v e n c i am a q u i l o. A descrição do mundo pós-moderno por esses teóricos é profundamente unitária, tem o m e s mo s e n t i d o, a me sma negatividade, o me smo d e s e s p e ro e a me s ma p e r da de sentido. Mas a busca do sentido é intrínseca ao ser humano. Não se admite que as pessoas possam ir ao shopping que não seja para expor o self nas passarelas. Ninguém vai ao shopping para comprar um presente para um amigo, ir ao banco, para coisas banais e esteja entretido c om suas questões subjetivas e não seja e ngo l f a do por aque le cenário de espetáculo. VINÍCIUS - A c ho que o Pondé e a Lívia sugeriram idéias interessantes. Talvez não devamos perder de vista a pós-modernidade c omo quebra das
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