Revista da ESPM - JUL-AGO_2007

grandes metas narrativas, c omo uma crítica aos excessos da modernidade e - a partir daí-uma liberação para que pudéssemos levar c om mais espírito científico - no melhor sen– tido dessa idéia - as proposições do homem, as proposições da própria ciência. Se a gen te ma n t i v er a crítica ao excesso que se comete em relação ao próprio conceito, talvez ele possa até ser recuperado, c omo a ferramenta que foi para apontar os a b u s os de uma ciência que queria, talvez, ocupar o lugar de uma religião banida. Gosto de um texto do Rouanet, onde ele faz uma recuperação histórica do conce i to da pós-modernidade e apresenta uma idéia - inspirada inclusive no Merchior: talvez seja o momento da gente pensar - não importa se chama– mos de pós-modernidade, mode r n i– dade tardia, o que seja - quais são os ideais da modernidade que ainda nos interessam.. GRACIOS O - Talvez seja essa uma forma produtiva de conduzirmos a nossa análise, se aquilo que chama– mos de modernidade se distingue ou não das características da sociedade c omo a vemos hoje. Ela continua fiel ao princípio concreto, positivo da modernidade? Ou é diferente? VINÍCIUS - A c ho que uma coisa é falar de um projeto de moderni– dade, outra coisa, de práticas sociais que de fato traduzam o projeto da mo d e r n i d a d e. Eu c o n c o r do c om Latour, em que, efetivamente, nunca fomos modernos. Tivemos um pro– jeto de modernidade que nunca foi c ump r i do. E, mesmo nesse projeto, foram c ome t i d os excessos. A c ho que a crítica da pós-modernidade dos f r an c e s es está l i g a da a um projeto de modernidade que talvez tenha sido excessivo. E talvez pos– samos rever a questão da angústia, que o professor G r a c i o so expôs. A angústia, a que Kierkegaard se refere, por exemplo, traduz um es– tado da condição humana ancorada no fluido da própria cultura - que são as amarras não naturais da nossa existência - e isso dá um ím– peto à transcendência e resulta em produtos maravilhosos c omo, por exemplo, a arte, a religião, filoso– fia, a própria ciência. A angústia, então, não é negativa, uma espécie de neurose que oprime o humano a partir da modernidade; quando se frustra, abandonando um projeto de religiosidade, ou se torna crítico em relação às suas utopias e ilusões. A angústia tem de ser pensada c omo um ímpeto, um movimento contínuo à transcendência. Pode-se positivar essa experiência, c omo se podem positivar algumas experiências da c on t empo r ane i dade pós-moderna que vêm sendo criticadas. Qu a n do o professor Gracioso fala do uso de novas t e cno l og i a s, c omo second life ou os games -, isso pode ser entendido, não c omo fuga da rea– lidade, mas c omo um modo novo de representar a existência. Nesse sentido, esses meios não se dife– renciam de experiências artísticas e - do mesmo modo - não dizemos que o artista quer fugir da realidade. Em que medida a realidade do artista é válida, e a do avatar - que está no second life representando suas práticas sociais e dando margens às suas fantasias - não é. A positividade da angústia, c omo um movimento de transcendência intrínseco ao humano, p r oduz, eventualmente, excessos, patologias, vícios, destrui– ções; mas, em outros momentos, resulta em arte, filosofia, ciência e também second life e games. JR - É boa essa. Qu a ndo o Vinícius se refere a atividades c omo games e second life c omo arte, podemos, também, ver a coisa c omo uma sig– nificativa mudança midiática. Não devemos esquecer que o artista, tradicionalmente, tinha acesso à sua mídia: as telas para as suas pinturas, os apetrechos para sua escultura, etc. Mas o povão não tinha. O povo plantava b e r i ng e l a, c u i d a va das vacas, arava a terra.. A tecnologia trouxe esses meios para o alcance de um número enorme de pessoas que nunca se haviam manifestado antes. Gostaria de ouvir o Percival... GRACIOS O - Antes que o Percival pegue a deixa: o second life e os games levam milhões de pessoas a entreter-se, durante horas, diante de jogos que simulam a realidade de uma forma que as atrai. Nu n ca h o u ve isso antes: este f o co na massa e em formas de nos distrair, por um mome n to ao menos, do mundo real? PERCIVAL -Acho que entendi meta– de de tudo o que vocês disseram.. Não pertenço ao mundo acadêmico, do pensamento teórico; sou mais da "mão na ma s s a ". M as estou aprendendo muito. A c ho que o que »

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