Revista da ESPM - JUL-AGO_2007
o J. Roberto disse me parece correto. Recentemente, num almoço, algu– mas pessoas falavam que nós, c omo pessoas, tínhamos a capacidade de interferir no imaginário, ao ouvir o rádio ou assistir à TV; porque as produções eram muito simplórias. Ha v ia um espaço para pensar e criar em c ima; mas, hoje, está tudo pronto. As execuções são fantásticas e não há espaço para você interferir. E eu d i z i a: pelo contrário, hoje em dia interfere-se, participando, intera– gindo, editando, reeditando. Estão aí todos os aplicativos de internet, onde não se é mais espectador; mas criador e co-autor em uma obra que não é mais de ninguém, onde ocorre a democratização dessa trans– cendência. Se antes, um grupo de elite de pintores conseguia se expres– sar e transcender a existência deles mesmos e daquela realidade que enxergavam através de sua arte, hoje a possibilidade dessa transcendên– cia está à disposição de quase todo mundo. Não no Brasil, onde 2% têm tudo e têm medo, e 9 8% não têm nada nem nada a perder.. Falou-se aqui da individualidade. A grande frase, de um grande autor (que sou eu) é: a individualidade não anda sozinha, anda em tribo. Atualmente - ou pós-modernamente - a i nd i– vidualidade anda em tribos; posso pertencer a c i n co tribos ao mesmo tempo. Então essa pluralidade e esse acesso permitem a transcendência, a interferência, a recriação, da mesma forma que, antes, ao ouvir rádio e imaginar Jerônimo, c omo o herói do sertão, ou ao assistir a uma tosca novela da antiga TV Tupi, a gente recriava toda uma fantasia, víamos outra imagem diferente da que o rádio ou a TV nos dava. Hoje fazemos a mesma coisa, só que c om as ferramentas de hoje. JR - O que nos conduz, de alguma forma, ao espetáculo.. G R A C I O SO - Há 50 anos, Marshal Mc L uhan - o primeiro a prever, logo depois do surgimento da televisão, o papel que ela iria desempenhar - disse, c om clareza: the medium is the message. Mais do que o que se diz, é a forma c omo se d iz e o c o n– texto em que é dito. Parafraseando esse conceito, eu diria, hoje, que o espetáculo é a mensagem. Não só a televisão, c om seu mundo mágico, consegue sobrepor-se ao conteúdo da men s agem. Mas os s h o p p i ng centers, o mu n do do f u t e bo l, a marca de uma camisa no ambiente feérico do atleta, que se a c a ba transformando em marca, c om sua saúde, talento e vigor.. No ambiente contemporâneo, pós-moderno, o espetáculo está se transformando n uma extensão do me i o, c o mo Mc L uh an previu? VINÍCIUS - Mc L uh an é um autor que foi prematuramente posto de lado. Num texto que estou escreven– do, não chamo isso de espetáculo, mas de experiência. Poderia traduzir c omo the experienceis the message. O que o senhor traduz c omo "es– petáculo" assume as muitas formas daquilo que a gente pode chamar de experiência e/ou entretenimento. Proponho essa ponderação crítica, porque - recuperando um pouco a história do meio acadêmico - o es– petáculo está muito ligado às idéias de Guy Debo r d, em que a idéia da espetacularização vem seguida por uma crítica ferrenha.. GRACIOS O - Gu y Debo rd chegou a dizer que o espetáculo substituiria a religião. VINÍCIUS - Sim, e ele é totalmente crítico em relação aos me i os de comunicação c omo mediadores e reorganizadores das práticas sociais. É uma crítica violenta, sugerindo que algumas arenas - termo que o Sr. usa -, que usamos para regular as nossas práticas sociais, ficarão deslegiti– madas, porque a mídia vai-se apro– priar de todas elas e nenhuma estará qualificada socialmente. Podemos falar do entretenimento c omo uma forma diferenciada do espetáculo. Isso a que o professor Gracioso se refere - e que eu qualifico c omo entretenimento - tem pelo menos três momen t os na história, c omo objeto de estudo. Um primeiro, em que o entretenimento não é desta– c ado de um conjunto de práticas sociais da vida privada. Remete à palavra entretere, aquilo que se fazia entre-coisas, ditas "sérias". Sou um ferreiro, estou lá fundindo o meu ob– jeto e, num momento em que aquilo está pesado, vou olhar o passari– nho, pela janela. O entretenimento ainda não está definido c omo uma prática diferenciada de um hobby ou de um lazer. Na modernidade, o entretenimento se torna commo- dity. Atividades c omo música, teatro etc. podem virar bens passíveis de comercialização. Parece-me que o
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