Revista da ESPM - JUL-AGO_2007
me parece importante, da superação de utopias modernas -, o humano tem sempre coisas bonitas para produzir, é capaz de realizar sua liberdade plenamente, de transfor– mar a partir da cultura... A c ho que o que o mundo da comunicação às vezes nos traz - e isso nos choca um pouco - é um caráter banal da vida e do ser humano, que, às vezes, é, ainda, herança da modernidade, e tentamos transformar isso em um grande glamour ético, c omo se o ser humano fosse de fato um ser quase sublime a priori. Então, essa banalidade, que a mídia traz, joga na nossa cara - c omo aquela história em que o homem ficou livre e quis Nike e McDo n a l d s . . É claro que podemos dizer: é porque ele não teve a escola certa. Mas, na França, muita gente tem escola certa, na Alemanha muita gente tem escola certa, e não sei até que ponto o francês, o alemão, de fato, acabam querendo Nike e McDonald's, c omo as pessoas Iivres, autônomas e cons– cientes gostariam de ter.. G R A C I O S O -A história da sua nora fez-me lembrar de um fato recente, aqui em São Paulo: no espaço de um mês, houve três grandes eventos - a vinda do Rapa, a Marcha por Jesus, dos Evangélicos, e a Parada Gay. De modo geral, pelo menos 7 0% da população de São Paulo é católica; segundo es– tatísticas americanas, a taxa universal de gays, aceita pelos cientistas, é de 2 %. Ora, o Papa atraiu 1 milhão de pessoas, na missa, no C ampo de Marte. A Ma r c ha por Jesus atraiu dois milhões de pessoas. Ou seja, c omo espetáculo foi superior à missa do Papa. E a Parada Gay atraiu 3 milhões de pessoas.. P E R C I V A L -A individualidade anda em tribos. L I V I A - R e t om a n do a questão da pós-modernidade, a c ho que uma das mudanças epistemológi– cas p r o f und as - que se p e r c e be hoje -, o n de a experiência é um e l eme n to f u n d ame n t a l, é que o c o n h e c i m e n to p o de ser o b t i do não mais e x c l u s i v ame n te através do intelecto e da cognição, c omo era a ma r ca mo d e r n a. O " p e n s o, l o go e x i s t o" de D e s c a r t es é o símbolo d i s s o. A mudança e p i s– temológica é t o r nar o c o r po em i n s t r ume n to de c o n h e c i m e n t o: a experiência s e n s o r i a l, a s u b– j e t i v i d a de e a emoção. Por isso, o ma r k e t i ng s e n s o r i a l, o ma r k e t– i ng de experiência; em v ez da s o c i e d a de de c o n s umo c omo e l e– me n to que p r o v o q ue uma c r i se de i d e n t i d a d e, e la pa s sa a ser o contrário: uma o p o r t u n i d a de para resolver essa crise de i d e n t i– dade, na me d i da em que se t o r na uma v ia p a ra o a u t o c o n h e c i- me n t o. O c o n s u m o, i n c l u s i v e, é um c o n c e i to e x p l o d i d o; v ai de s de a experiência até a aquisição e experiência-o manusear, daí a noção de sensorialidade dos objetos, faz com que se adquira conhecimento sobre si mesmo, através do corpo. - Você não acha fasci– nante que essa experiência a partir do corpo possa ser virtual? V I N Í C I US - Eu estava no programa de pós-graduação da UERJ, onde foi f undado um laboratório, c om o nome de "técnopalato-visual de olfatato". É uma brincadeira, claro, mas também é algo sério: uma pa– lavra absurdamente grande, que não existe na língua portuguesa, mas também esse radical "tecno" mais os radicais de todos os c i n co sentidos, na tentativa de refletir sobre c omo os nossos sentidos são afetados por tecnologias, arquiteturas, espaços urbanos. O Hans Gumb r e c ht tem um texto em que fala sobre a mo– dernização dos sentidos. Existirá uma diferença entre visão e visuali– dade, entre audição e audibilidade. Estamos trazendo à ESPM do Rio o músico Z b i g n i ew Karkowski, que estudou c om Pierre Boulez e, agora, está no Japão estudando Noise - que, c omo o nome d i z, é ruído. Ele está tratando da emergência de novas experiências de escuta, de aud i b i l i– dade que poderão, daqui a pouco, ser incorporadas c omo códigos na cultura. Se você for hoje a uma Ian house e desplugar (porque normal– mente os garotos estão jogando c om fones de ouvidos), vai ouvir sons que não são típicos do nosso cotidiano, mas que estão nos celulares, nos palms, nos laptops, começam a habitar a cultura p r oduz i ndo novas audibilidades. E, daqui a pouc o, o mundo da publicidade, que é ágil, se apropria desses códigos e começa a se comunicar dessa maneira. JR — É uma distinção interessante, entre visão e visibilidade, audição e audibilidade. Só que os sentidos são
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