Revista da ESPM - JUL-AGO_2007
Há, contudo, uma alternativa ao niilismo reativo em termos de c omu– nicação pública por meio do resgate do caráter claramente retórico e da lógica substantiva do discurso político. Tal resgate implicaria um niilismo libertário. Em que c o n– sistiria tal paradigma? Em primeiro lugar, uma descentralização da idéia de política. Pensá-la não mais a partir de um centro emanador do poder. E sim a partir de um poder capilarizado nas relações, difuso na sociedade. Exige-se, para tanto, uma compreensão dos jogos de poder em seus múltiplos campos. De sua operacionalidade a partir de suas microestruturas. A tese central é a de que o poder político nada mais é do que uma forma humana de relação e, por– tanto, exercido por e para homens a partir de critérios de sentido e valor atribuídos às ações políticas. Crité– rios presentes nos grandes e peque– nos feitos políticos do homem, nos grandes e pequenos discursos. Em suma, seria, em primeiro lugar, uma atitude de desinstitucionalização da política em prol de sua huma n i z a– ção. O que pressuporia uma desins– titucionalização da comunicação pública em favor de uma human i za– ção da comunicação pública. Curiosamente, no mome n to em que a comunicação pública ins– creve-se num con t ex to mod e r n o, que se p r e t e n de r e v e s t i do de cientificidade, o custo desta é a desumanização da comunicação em função de uma desumanização do homem. Relega-se a retórica à arte ou técnica de retirar o h omem de seu próprio c on t r o l e, de turvar sua razão pela persuasão da boa razão, da lógica f o rma l, que mo s– traria o b om c am i n h o. A c o m u n i– cação pública perde seu caráter de discurso deontológico, de DEVER- SER, e mostra-se c omo discurso do SER, ontológico, d e i x a ndo, assim, de ser c o m p r e e n d i do c o mo o c ampo do discurso justificável em favor do discurso sedutor porque verdadeiro. Considerando-se as condições de cientificidade ou de racionalidade do discurso moderno, e o problema pós-moderno do fim da metafísica e dos "pontos fixos" de fundamen– tação das verdades e considerando- se, ainda, que o discurso político e a comunicação pública c omo um todo inscrevem-se num contexto de discurso sobre e/ou a partir do poder - estatal ou não -, sob pena de nã o ser político ou público o discurso , pod emos afirmar que o discurso político apenas sustenta sua raciona– l i dade a partir da alienação da s condições de sua própria produçã o c omo discurso, da alienação de seu caráter axiológico. Paradoxalmente, portanto, a comunicação pública c o mo e s c l a r e c imen to das razões públicas só é eficaz na medida e m que não e s c l a r e ce suas próprias condições de eficácia, seu context o de razoabilidade. Em s uma, p o d emos afirmar que os discursos que se estruturam em torno da transparência dos atos de governança, dos atos de poder es– truturam-se c omo plausíveis apenas sob a ótica de um convívio s imu l– tâneo de um paradigma racional de discurso no mode lo da lógica formal e de uma naturalização de determinados dados que o tornariam inquestionável em si. Desta forma, uma estrutura buro– crática de poder, seja um Estado, seja uma empresa, só poderia ser transparente nesses nossos tempos pós-modernos. Tempos em que os fins j u s t i f i c am me smo q u a l q u er meio. Assim, não é o Estado que se torna transparente graças à c omu– nicação pública. São os limites da visão que são redefinidos de tal forma que o opaco não mais seja percebido c omo opaco, mas c omo inexistente. C omo se não houvesse nada a ser visto para além dele. Transparência que não mostra. Mas faz crer num mundo indiscutível e verdadeiro.
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