Revista da ESPM - JUL-AGO_2007

mundo - mundus. O mundo torna- se imundo, mas, ao contrário, há o fato de levarmos a sério esse mundo através das suas aparências. Daí eu ter dito ontem: a forma é formadora. Não fui o primeiro a dizer isso. Foi Spinoza. Eu o reitero, pois acredito que é, justa– mente, na visualização da publicidade que reside a filosofia da pompa. Certamente, há uma estigmatização, que vem de muito longe - um medo da imagem, um medo do mundo. No fundo, é preciso amar esse mundo obscuro. Para mim é isso: o amor fati (destino) é amor mundi. Por bem ou por mal, é preciso chegar a termos com esse mundo. Sob muitos aspectos, na dimensão lúdica, na dimensão onírica que nos prodigaliza a pub l i c i d a de - pois, para além da estigmatização, exis– te o sonho, o jogo e o imaginário -esta permanece c omo a coisa mais interessante. Confidencialmente, eu p o u co as– sisto televisão, mas sempre vejo os anúncios, porque considero que são a coisa mais interessante, talvez a única coisa interessante, a bem dizer, na televisão. CLÓVIS - Gostaria de saber o que achou da nossa idéia, de juntar publicidade e modernidade? Você nos aconselharia a prosseguir nesse caminho? MAFFESOLI - Sim; c omo opinião professoral, e também um conselho de amigo, é preciso prosseguir sobre esse tema, da pós-modernidade. Eu participo de debates sobre a pós- modernidade em diversos países; mas sempre há uma reticência, uma es– pécie de desconforto com respeito ao tema. Para falar a verdade, considero isso como uma espécie de bloqueio psicológico, para usar as categorias que não são as minhas, e sim as psi– canalíticas, para analisar o medo em relação à pós-modernidade. Em muitos lugares, i n c l u s i ve na França, fala-se de hiper-modernidade, de segunda modernidade, da mo– dernidade tardia, enfim todos esses termos para não pronunciar a palavra pós-modernidade. Tem a ver com o que se chama de politicamente correto - ou incorreto. Para descrever o qu e foram os séculos 2 e 3 da nossa era, dizíamos "a decadência romana", e agora é "antigüidade tardia".. Não s e ousa mais dizer que alguém é cego, diz-se que a pessoa não enxerga, ou tem limitações de visão. Não se diz que alguém é gordo, mas que está c om excesso de peso. Assim, temos medo das palavras, e com a pós-mo- demidade é a mesma coisa: já que não se ousa falar em pós-modernidade, procuramos termos paralelos. Mas por que não admitir a decadência de alguma coisa? Quando algo cai em latim, decadare -, algo tam– bém ressurge. Há textos belíssimos, de Heidegger, mostrando que, no momento em que há a decadência de alguma coisa, ocorre, ao mesmo tempo, uma emergência. A idéia de pós-modernidade mostra isso: caem os grandes valores modernos e, ao mesmo tempo, emergem outros. »

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