Revista da ESPM - JUL-AGO_2007

cionaria c omo um duplo do mundo, operando c om regras próprias e ine– xoráveis em prol da despolitização e pacificação do público. Fortemente influenciado pelas idéias de Debord, Kellner também entende que a vida cotidiana seria permeada por diferentes níveis de espetáculo. O espetáculo é me smo de s c r i to pelo autor c omo " um dos princípios organizacionais da e c o n om i a, da política, da sociedade e da vida c o– tidiana" (2006:119), estendendo-se por campos tão diversos quanto o comércio, a política, os esportes, a moda, a arquitetura, o erotismo, as artes e o terrorismo, por exemplo. comportamentos sociais e fornecendo o material com que as pessoas forjam sua identidade" (2001:9). Cunhado na primeira metade do sé– culo passado por Adorno e Horkhe- imer para designar o deslocamento do valor simbólico dos produtos culturais para um valor mercantil advindo de seus modos de produção em massa, o conceito de "indústria c u l t u r a l" é retomado por Kellner. S e r v i ndo- se do c o n c e i to frank- furtiano, o autor esclarece que a cultura da mídia é industrial e que seus produtos são mercadorias que visam ao dos gigantescos conglome– rados midiáticos transnacionais que a controlam. "A cultura da mídia", diz o autor, "organiza-se c om base no modelo de produção de massa e é p r o d u z i da para a massa de acordo c om tipos (gêneros), segun– do fórmulas, códigos e no rmas convencionais", diz o autor (idem). O grande produto oferecido pela cultura da mídia é o entretenimento, que espetaculariza o cotidiano para s e duz ir as audiências e levá-las a identificar-se c om as represen– tações sociais e ideológicas nela presentes. Na década de 1 9 60 c a u s a r am grande repercussão as teses f o rmu– ladas pelo francês Guy Debord, que propunha uma análise da sociedade moderna c omo uma "sociedade do espetáculo". A crítica situacionista dirigia-se tanto ao chamado " c a p i– t a l i smo avançado" - gerador do "espetáculo difuso" da sociedade de consumo -, quanto ao bolche– v i smo, d e n om i n a do " c a p i t a l i smo de Estado" e que daria origem ao "espetáculo c on c en t r ado" da b u– rocracia centralizada. Em ambos os casos, a noção de espetáculo a p a r e ce c o mo uma f o rma a l i e– nante de manipulação ideológica e econômica que nutre uma cultura de lazer e entretenimento fácil, visando à docilização das massas proletárias. Nesse contexto, o espetáculo fun- O papel desempenhado pelos pro– cessos de globalização de mercado e o su r g imen to da informática e da microeletrônica redesenhando nossas práticas co t i d i anas levam Kellner a p r opor que estaríamos i me r s os em uma s o c i e d a de do infoentretenimento. Conforme nos ensina, "anúncios, marketing, re– lações públicas e promoção são uma parte essencial do espetáculo g l ob a l" (idem:126). Entretanto, há significativas dife– renças entre o pens amen to desses dois autores que me r e c em nossa atenção. Em D e b o rd o espetáculo é pensado c omo um me c a n i smo de p a s s i v i d a de e alienação, "o mome n to em que a me r c a d o r ia o c u p ou totalmente a v i da s o c i a l" ( 1 9 9 7: 4 2, g r i f os no o r i g i n a l ), a f a s t a n do o indivíduo de uma v i da p r o d u t i v a. Trata-se de um mo d e lo t o t a l i z an te e monolítico u t i l i z a do para descrever a mídia e a s o c i e d a de c om o objetivo de fazer uma crítica ao c ap i t a l i smo e

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