Revista da ESPM - JUL-AGO-2011

R E V I S T A D A E S P M – maio / junho de 2011 10 E N T R E V I S T A GRACIOSO − A classe média hoje repre- sentaria 53% da população brasileira. Os critérios de classificação social do mundo da pesquisa de mercado sempre foram polêmicos. No passado houve até mesmo uma cisão entre a ABIPEME (Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa de Mercado) e a ANEP (Associação Nacional de Empresas de Pesquisa), por ocasião da tentativa de introdução de um novo crité- rio. Conhecemos os números do IBGE que serviram de base para a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), e todas as projeções. Como você os inter- preta? Eles realmente nos autorizam a falar de uma nova classe média, que seria o resultado de uma emergência de quase 40 milhões de pessoas? NELSOM − Este é um assunto complicado porque envolve conceitos diferentes. Dois deles estão em evidência: o conceito de classe a partir do “Critério Brasil”, que é usado pelas empresas, e o conceito da Fundação Getulio Vargas (FGV), que fala em classe. Fiz um trabalho recente que contesta o que está acontecendo na mídia. Temos observado uma idealização da classe média. O que aparece na mídia − por razões políticas, comerciais ou simples desconhe- cimento − é mais uma idealização, como se realmente houvesse uma transformação do povo brasileiro. Nesse trabalho levanto uma dúvida: há uma mudança social ou meramente financeira? O “Critério Brasil“ estabelece quem tem mais e menos poder de compra. O conceito da FGV também é baseado em renda, mas fala em uma classe média com renda familiar de R$ 1.200,00 a R$ 5.174,00. Já o “Critério Brasil” con- sidera uma renda média de R$ 1.170,00 a R$ 1.700,00. A questão é que as empresas utilizam o “Critério Brasil”, enquanto tudo que é publicado na mídia retrata a classe C da FGV, que está baseada na PNAD do IBGE, mas fala das classes B1, B2 e C1. A classe C2 do “Critério Brasil” não entra na classe C do Critério da FGV. Imagine a distorção que isso gera no marketing das empresas. O critério da FGV está errado? Não, é outro critério. O fato é que, no Brasil, quando se fala de classe média, existe uma idealização. GRACIOSO – É uma versão que nós, como brasileiros, gostamos de ouvir. Fala do pro- gresso, daemergência, da transformaçãode trabalhadores e consumidores, de pessoas queestavamisoladasdomercado. Épor isso que pega com tanta facilidade. NELSOM − Existe uma teoria em psicolo- gia que diz que as pessoas gostam de se enganar. Por isso, quando se fala de um crescimento espantoso da classe média, as pessoas acabam embarcando nesse sonho, o que dificulta e faz perder o foco dos princi- pais problemas. É a fantasia de que a classe média, agora, pode tudo, com as empresas lançando cada vez mais produtos para esse público. Mas muitas dessas empresas acabam perdendo o foco, por não levar em conta as variáveis da realidade. GRACIOSO − E o “Critério Brasil”, usado pelas empresas de pesquisas, como de- fine a classe média? } O conceito da FGV fala em uma classe média com renda familiar de R$ 1.200,00 a R$ 5.174,00. Já o “Critério Brasil” considera uma renda média de R$ 1.170,00 a R$ 1.700,00. ~

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