Revista da ESPM - JUL-AGO-2011
maio / junho de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 11 S o f i a E s t e v e s ‘ NELSOM − O “Critério Brasil” estabelece a classe média a partir da posse de bens que guardam uma relação com a renda e esse é um dos erros. O melhor critério para potencial de consumo é a renda, só que nas pesquisas tradicionais de marke- ting é impossível obter esse dado, seja por desconhecimento, seja por medo de dizer quanto se ganha. Então, é preciso usar o método que estime essa renda − por meio da posse de bens −, o que pode levar à dis- torção. O “Critério Brasil” mede o mesmo tamanho da classe média ou da classe C do Critério da FGV. GRACIOSO – Portanto, falamos em algo como 50% da população. NELSOM – O último dado oficial é de 2009: 49% do “Critério Brasil” e 50% da FGV. Em 2011, o número da FGV já é 55%, mas a comparação que faço aqui é 49% contra 50%. De acordo com o “Critério Brasil”, pertence à classe C quem ganha hoje entre 2,1 e 3,2 salários-mínimos, ou seja, de R$ 1.145,00 a R$ 1.745,00. Já o Critério da FGV vai de R$ 1.200,00 a R$ 5.174,00. Veja que o grupo chamado pela mídia de classe média é mais amplo e heterogêneo em termos de renda. Se verificarmos a renda média do trabalhador brasileiro, o último dado de maio é de R$ 1.567,00. Então, faz muito sentido o “Critério Brasil” considerar quem ganha até R$ 1.745,00. O outro, que vai até R$ 5.174,00, me parece exagerado. GRACIOSO − Para o “Critério Brasil” já é classe B? NELSOM − Já é B1, B2, até na classe A e B. Veja a grande diferença: o Critério da FGV estabelece 11% nas classes A e B e o “Critério Brasil” 33%. O “Critério Brasil” dá uma margem melhor de atuação para as empresas porque segmenta mais as classes A e B. Já os 11% da FGV é mais difícil seg- mentar, porque está tudo concentrado na classe C, que eles chamam de classe média. GRACIOSO − O “Critério Brasil” também divide em cinco classes? NELSOM − Sim, como a FGV: A, B, C, D e E. O “Critério Brasil” evita chamar de clas- se média, porque classe média tem outra conotação, que, na teoria sociológica, vai além do poder de compra. GRACIOSO − É o burguês com tradição familiar de educação, de cultura, con- servadorismo... NELSOM − No Brasil, o que está havendo não é uma mobilidade social, mas uma mo- bilidade em termos de consumo e poder de compra. A mobilidade social significa que você sai de uma classe mais baixa e passa para a classe média. Mas você só pode di- zer que participa dessa nova classe se tiver os benefícios sociais e econômicos que ela oferece, como cultura, lazer, acesso à saúde, educação. Mas aqui ainda há muita carência desse tipo de benefício. Há um movimento, uma mobilidade, que é devido ao aspecto financeiro, mas não existe a contrapartida do social, por isso preferimos não chamar de classe média o pessoal da classe C. } O que aparece na mídia, por razões políticas, comerciais ou simples desconhecimento é mais uma idealização, como se realmente houvesse uma transformação do povo brasileiro. ~ Marangoni Nelsom
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