Revista da ESPM - JUL-AGO-2011
julho / agosto de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 113 No aspecto social, as reflexões passampelos pro- cessos de construçãodehábitos, considerando-se as condições culturais, comunicacionais, educa- cionais e econômicas das classes populares, suas competências e expectativas na interface com constituição da cidadania, autoestima e identi- dade. Falar sobre o consumo pressupõe muito mais do que discorrer sobre formas de aquisição de mercadorias, criticando hábitos e comporta- mentos decorrentes de necessidades de (sobre) vivência. O consumo começa com o uso que os indivíduos fazem das mercadorias na definição de posições nas relações sociais. Não é o caso de demonizar as estatísticas otimis- tas, mas relativizar a emergência de uma nova classe C, que teve um acréscimo de 48,7 milhões de pessoas nos últimos oito anos (FGV). É refletir sobre a sustentabilidade do processo, sobre os reais acréscimos sociais, em termos de inserção social e inclusão cidadã. Analisar o crescimento da ascensão social no país como parte de um processo, e, como tal, constituído por etapas, diferenciadas, mas interdependentes. Se 47,94% (FGV) ascenderamda classificação D e E para C, é precisomapear o perfil desse grupo em termos de localização geográfica, consumo tecnológico, nível educacional e crescimento profissional. No âmbito cultural, falar em mudanças, em di- minuição das desigualdades, significa verificar os valores que acompanhamoprocesso. As elites representamoprimeirofiltrodoquedeve ser con- siderado arte, sofisticação e tecnologia de ponta. Tradicionalmente, mas não necessariamente. Os meios de comunicação de massa serviram (e servem), para a organização da identidade e do sentido de cidadania, incorporando as classes populares à cultura hegemônica (MARTIN-BARBERO, 1997; GARCIA CANCLINI, 1996), via, principalmente, uma publicidade que pro- paga mais os desejos, ambições e frustrações dos indivíduos, do que suas necessidades. Qual a repercussão do acesso aos bens de consumo na autoestima deste grupo como reconhecimento de suas potencialidades culturais, criativas, ar- tísticas, capacidades intelectuais e perspectivas de vida, para além dos padrões hegemônicos? Mas quem é essa nova classe C? Numericamente trata-se de uma população re- presentada por famílias com renda mensal entre R$1.100,00eR$ 4.800,00, aproximadamente.Nos últimos anos, cresceu emconsequência direta da estabilidade econômica, não sendo, entretanto, como concluemalgumas leituras rasas, fruto das decisões de um único governo. Hoje “classe C”, antes, “classe média”. Mas aquela era diferente. Formada por funcionários do governo, com um emprego absolutamente estável, o que se refletia em conservadorismo e governismo. 4 A classe C de hoje é bastante diferente. Em- bora numerosa, não compartilha de uma ho- mogeneidade de valores, crenças políticas ou comportamentos sociais. Como já dito, nascida Ao se falar em cultura, tradicionalmente, é a elite quemsempre representa o principal filtro do que deve ser considerado arte, so fisticaçãoetecnologiadeponta.Masnãoé, necessariamente,oqueacontecenosdias de hoje, pois osmeios de comunicação de massa serviram e ainda nos servem para a organização da identidade e do sentido de cidadania, incorporando as classes populares à cultura hegemônica.
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