Revista da ESPM - JUL-AGO-2011
R E V I S T A D A E S P M – maio / junho de 2011 12 } As oportunidades de negócios estão em todas as classes, inclusive nas classes A e B. ~ E N T R E V I S T A GRACIOSO − Falando de outros critérios, que vão além da renda, o que define a classemédia e a diferencia da parcela cha- mada classe C, que pretende se incorporar à classe média? NELSOM − No Brasil, a classe média tra- dicional refere-se muito mais à classe B. Nesse sentido, é uma classe que já tem acesso a bens de consumo mais sofistica- dos, como eletrônicos, carros, informática. Já essa classe C, que chamo de emergente, ainda não tem acesso a isso. Estamos em uma sociedade onde a ascensão dessa classe emergente se dá muito mais pelo consumo e pelo crédito. Até levanto uma dúvida: será que estamos vivendo, realmente, uma questão sustentável? Diria que não. Pen- sando em termos de consumo, há essas diferenças que, em termos de educação, são muito maiores. GRACIOSO − Fale um pouco mais sobre educação. NELSOM − Se imaginarmos que, para haver uma ascensão social, é preciso ter acesso à educação, isso não faz parte da classe emergente. Temos vários exemplos de jo- vens que se matriculam na faculdade, mas acabam desistindo, por falta de recursos. Muitas vezes, não têm conhecimento nem formação para se manter. GRACIOSO − Segundo o Sindicato das Escolas de Nível Superior de São Paulo, a principal causa da desistência é a falta de preparo para acompanhar o curso. NELSOM − É isso mesmo. Também tem o problema financeiro. Essa situação mostra que a ascensão social não está ocorrendo. São pessoas que emergiram e já pertencem à classe C, mas não têm os benefícios da classe média porque isso toma tempo. Uma pessoa que nasce nas classes mais altas, esse tempo é encurtado porque já faz parte do contexto, da família. Aqui temos uma educação muito falha. Comparando com os Estados Unidos, estamos 60 anos atrasados. Outro dia vi uma pesquisa mostrando que o número de formados no ensino médio acompanhou o dos anos 1950 nos Estados Unidos, enquanto a quantidade de for- mados nas universidades brasileiras era equivalente à dos anos 1960 nos Estados Unidos. Realmente, ainda estamos muito longe. Também ocupamos um dos piores índices no IDH ( Índice de Desenvolv i- mento Humano), onde a variável educação é relevante. No Brasil, a educação é muito precária e o pior é que as políticas voltadas para isso são ainda mais precárias. GRACIOSO − Não há melhoria à vista. NELSOM − Não. Por isso precisamos ter certo cuidado. Estamos diante de uma clas- se C emergente, do ponto de vista de consu- mo e também de pensamento e sentimento. Hoje existe menos preconceito em relação a esse público, que está desenvolvendo um sentimento de autoestima e independência. Deveríamos aproveitar o fato de a classe C estar sendo mais respeitada para ter um crescimento social realmente verdadeiro. GRACIOSO − Nesse contexto, a nova classe média deverá votar de forma mais conservadora nas próximas eleições?
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