Revista da ESPM - JUL-AGO-2011

maio / junho de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 13 S o f i a E s t e v e s } É a fantasia de que a classe média agora pode tudo, com as empresas lançando cada vez mais produtos para esse público. ~ NELSOM − Eles não têm muita noção disso. Mas deverão votar naqueles que oferecerem benef ícios imediatos − que são os econômicos. A última eleição nos mostrou isso: nos extremos da renda do trabalhador brasileiro − quem ganha até t rês sa lá r ios-mí n imos e ac ima de dez salár ios-mínimos − tivemos uma dife- rença gritante entre Dilma e Serra. Na ú lt ima pesqu isa de intenção de votos, Dilma estava 20% acima no extremo in- ferior, enquanto Serra tinha 15% a mais de votos no extremo superior. E, no meio, tínhamos uma semelhança, uma espécie de equivalência. É por isso que Fernando Henrique Cardoso acertou ao dizer que o PSDB deveria buscar a diferenciação no meio, porque, nos extremos, seria muito difícil. O pessoal de baixa renda é muito sensível ao Bolsa Família, à ajuda finan- ceira e, na eleição, a variável econômica ainda é determinante. GRACIOSO − Vamos mudar o foco para potencial de consumo porque, para as empresas, o que interessa é o dinheiro disponível ao fim do mês nas mãos do consumidor. Você reconhece que houve realmente esse aumento? A FGV aponta que o crescimento da renda dessa nova classe média, nos dois últimos anos, che- gou a 4% acima do PIB. Considerando que o PIB de 2010 foi de 7%, isso significa que o crescimento da renda dessa nova classe média chegou a 11%. NELSOM − De 2003 até 2010, por exemplo, esse crescimento foi equivalente a 25% da renda do trabalhador brasileiro. Agora, esse número precisa ser visto com cuidado, porque um aumento de renda numa base muito frágil tem um significado diferente do que um aumento de renda numa base melhor. Por isso digo que esse aumento de consumo − que é uma realidade − está mais baseado no crédito do que no au- mento de renda. É um aumento de renda frágil, que parte de uma base elementar onde a renda do trabalhador brasileiro é de R$ 1.567,00. Há um dado interessante do IBGE mostrando que 70% da renda do trabalhador vão para quatro categorias de produtos: vestuário, moradia, alimentação e transporte. GRACIOSO − Portanto, são despesas es- senciais à vida. NELSOM − Ligadas à sobrevivência. So- bram apenas 30% de R$ 1.500,00, em torno de R$ 500,00 para lazer, educação, saúde, produtos pessoais... GRACIOSO − E pagar as dívidas... NELSOM − Ou seja, se não tiver crédito, não há como alimentar todo esse consumo. Há também um certo exagero direcionado à classe C, como se ela fosse responsável por toda a expansão do consumo. Quando verificamos, realmente, os dados, percebe- mos uma expansão do consumo em todas as classes. Para dar um exemplo, as classes D e E que, em 2002, tinham somente 21 categorias de produtos na cesta básica, no ano passado passaram a ter 39, quase o dobro. Então por que esse foco excessivo na classe C? Tenho feito um trabalho entre os Marangoni Nelsom

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