Revista da ESPM - JUL-AGO-2011

R E V I S T A D A E S P M – maio / junho de 2011 16 } Precisamos de grandes mudanças, a co- meçar pela área educacional, passando pela distr ibuição de renda e por medidas de pro- teção social e à saúde. ~ E N T R E V I S T A Se houvesse uma mudança significativa na renda do trabalhador brasileiro, isso seria diferente em 2009. Mas um terço da popu- lação continua tendo dois terços da renda e dois terços da população ainda têm apenas um terço da renda. Daí a minha hipótese: de onde vem esse aumento de consumo que é uma realidade? Vem do crédito, que alimenta o aumento de consumo. GRACIOSO − Isso dá certa razão aos ana- listas, que apontam para o surgimento de uma bolha de crédito no Brasil. NELSOM − Quando se pensa na evolução do crédito em relação ao PIB, só em 2005, ele atingiu 30% do PIB. Em 2008, subiu para 40% e em 2010, 46,7% em relação ao PIB. Mas isso é muito ou pouco? Se compararmos com os 187% dos Estados Unidos, é pouco. Se compararmos com a China e seus 123% em relação ao PIB, também é pouco. O índice brasileiro é baixo até quando comparado com os 78% da Índia. Temos como crescer? Sim, mas aí está o problema. GRACIOSO − O problema é a taxa de juros. NELSOM − A taxa de juros e a poupança do brasileiro, que ainda está caindo. Ela é apenas 18% em relação ao PIB e está com uma cur va descendente. O próprio Banco do Brasil mostrou que, entre 2005 e 2010 − e aí ele usa a classe média da GV − houve um aumento do empréstimo de 350% para essa classe e, de poupança, só 27%. Esse dinheiro foi para o consumo. Então, realmente, há um problema sério. Outro dado interessante mostra que o PIB, de 2003 a 2009, cresceu, em média, 3,6%. Se tirarmos o crédito, vira 1,7%. Então, o crescimento é baseado em crédito. Aí cabe a sua pergunta: é bom, é sustentável, quer dizer, para onde vamos? GRACIOSO − Só os economistas é que poderão responder. NELSOM − Uma melhor distribuição de renda é crucial para isso não se transfor- mar numa bolha. Todos os tributos que financiam a seguridade social no Brasil – isso inclui Previdência, saúde, Bolsa Famí- lia – incidem sobre a receita das empresas e estão sendo repassados aos produtos que todas as classes consomem e também arcam com a mesma carga tributária. Pro- porcionalmente, a classe baixa, onde está a classe C, paga mais. No Brasil, ainda estamos na questão do imposto que não é progressivo; é regressivo, o que dificulta a distribuição de renda. GRACIOSO – No futuro, essa situação se sustenta? Continuaremos a ver gente su- bindo pelo menos em poder de consumo ou vai haver um basta? NELSOM − Precisamos de grandes mu- danças, a começar pela área educacional, passando pela distribuição de renda e por medidas de proteção social e à saúde. Aqui, 48% dos brasileiros pagam prev idência

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