Revista da ESPM - JUL-AGO-2011

maio / junho de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 17 S o f i a E s t e v e s } Um terço dos brasileiros tinha dois terços da renda, enquanto dois terços da população, onde estão as classes C e D, dividiam apenas um terço da renda. ~ social, índice que no Chile chega a 61%. Isso é um problema sério porque há um envelhecimento da população. As pessoas estão vivendo mais e irão precisar cada vez mais dessa previdência social. Na questão do crédito, o governo, de certa forma, já está mais atento. Há medidas restritivas para diminuir o consumo porque aumenta a inflação e traz outros problemas. Mas faz-se necessário resolver o problema da educação, da distribuição de renda e da seguridade social e da saúde. Caso con- trário, fica-se muito mais dependente do crédito e há um ilusionismo em relação a isso porque as pessoas, ao consumir, dão a impressão de que melhoraram de vida. Diria que são ainda muito carentes de con- sumo. Ainda temos muitas oportunidades de crescimento em todas as classes sociais. A área de cosméticos, por exemplo, cres- ceu muito no Brasil, que já é o segundo maior mercado do mundo. E continuará crescendo em todas as classes porque a mulher brasileira dá muita importância à aparência e é um elemento de inclusão. Então, há um problema de marketing a ser resolvido: posicionar melhor os produtos, ter preços mais adequados, estar em mais praças… A expansão do consumo não está l igada somente à classe C. Al iás, uma agência de propaganda criou uma unidade especial em classe média, mas não sei a qual classe média eles se referem, a da FGV ou a do “Critério Brasil”. GRACIOSO − Aproveitando essa menção, você acha que a motivação dessa nova classe C é diferente da tradicional quando se trata de adquirir produtos ou serviços? NELSOM − Na verdade, essa classe emer- gente está, agora, vivenciando alguns senti- mentos e motivações que já estão presentes há mais tempo nas classes mais altas. GRACIOSO − Não inovam. NELSOM − Não. Posso citar algumas dessas motivações que estão aparecendo na classe C. Uma delas é a busca pelo prazer. GRACIOSO – É o chamado hedonismo. NELSOM − Essa classe sofreu durante muito tempo ao comprar só pelo preço. Comprar pelo preço significa não ter desejos e um ser humano sem desejos está condenado a ter frustrações, a ser infeliz. Óbvio que ganhar pouco limita as escolhas, mas essa classe agora está em busca do prazer. Qualidade de vida, algo buscado pelas classes mais altas, já está fazendo parte dessa classe emergente, que chamo de classe C. E para esse público, qualidade de vida está ligada à melhoria das condições de moradia. GRACIOSO − Saneamento. NELSOM − Muito mais. Eles querem uma casa limpa, com móveis mais organizados e também com bens de consumo dentro para facilitar a vida das pessoas. Ao pensarmos nesses dois aspectos – prazer e qualidade de vida –, temos outro problema muito dis- Marangoni Nelsom

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