Revista da ESPM - JUL-AGO-2011
R E V I S T A D A E S P M – maio / junho de 2011 18 } O grande erro dos planejadores de marketing é pensar o Brasil a par tir dos próprios umbigos, a partir do pequeno grupo em que eles convivem. ~ E N T R E V I S T A cutido pelo marketing. Essas pessoas estão muito mais para o consumo não consciente, gerado pelo imediatismo. Buscam o pre- sente e não o futuro. É uma classe C onde essas questões de sustentabilidade ligadas ao meio ambiente ou social são periféricas. Outra coisa muito característica da classe média antiga ou das classes mais elevadas é a saudabilidade, ligada tanto ao lado estéti- co, quanto à saúde, que também já aparece nessa classe emergente. Qual é o impacto disso no marketing das empresas? Quem atua principalmente na área de alimentos e cosméticos precisa estar atento, pois essa nova classe C tem preocupações nessa área. Percebo, em muitos estudos, um sentimen- to que é o de independência. Essa classe sempre foi muito dependente das políticas públicas: serviço de saúde, escolas, eles não têm opções. E, na medida em que têm mais poder de compra, cresce esse sentimento de independência, que é muito positivo. Essa independência dá a elas a sensação de mais poder e segurança, e essa é a grande mu- dança da classe. Outro ponto fundamental é o desejo de preparar-se melhor, por causa da internet, do aumento de faculdades ou por causa desse próprio desejo de estarem inseridas num grupo mais elevado. GRACIOSO − Olhampara a educação como uma forma de ascensão social. NELSOM − Não só no aspecto da educação formal, mas também precisam ter mais in- formações, o que é diferente de fazer uma faculdade ou um ensino médio. Esse sen- timento é bem evidente nessa classe emer- gente. Agora, eles se deparam com uma série de problemas, com as limitações do dinheiro, já que 70% do salário estão des- tinados aos aspectos básicos e sobra pouco para cuidar disso. Esse comportamento explica, por exemplo, o crescimento da internet, não só a ideia de estar incluído... GRACIOSO − É uma forma fácil de obter informações. NELSOM − Cresceu muito esse desejo de não só estar ligado para obter informações, como também o de pertencer a um gru- po, que começa a ter identidade própria, diferente da identidade da classe média tradicional. GRACIOSO – Um grupo que reconhece ter condições em comum com pessoas com as quais querem se relacionar. NELSOM − Essa é outra mudança. Aliás, o que estou falando tem uma implicação grande na área de comunicação. O modelo brasileiro sempre foi o modelo aspiracional de comunicação. Você usa determinados símbolos ou ícones das classes mais ele- vadas, coloca numa peça publicitária para estimular as pessoas das classes mais bai- xas para que queiram aquele produto ou serviço e assim por diante. Isso precisa ser repensado porque, na medida em que elas ganham independência e segurança, se pre-
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