Revista da ESPM - JUL-AGO-2011

maio / junho de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 19 S o f i a E s t e v e s } Essa classe emergente está, agora, vivenciando alguns sentimentos e motivações que já estão presentes há mais tempo nas classes mais altas. ~ param melhor, ampliam sua autoestima e passam a pertencer a um grupo. E a internet tem de respeitar essa identidade, dar valor a esse grupo. As políticas públicas precisam aproveitar esse momento, que é realmente muito bom. A comunicação tem de pensar muito bem essa questão aspiracional. Esse preparar-se melhor inclui as universidades, até focando mais essa classe. O grande problema é que a qualidade educacional brasi lei ra é mu ito r u im − respeitando muitas exceções. Está com qualidade ruim porque tem professores ruins, não tem material, não tem uma cultura adequada ou está baseada na ideologia. A própria Universidade de Brasília está muito mais preocupada com a questão ideológica do que com a de formação. GRACIOSO − De modo geral, as universi- dades federais são todas ideológicas, os alunos são muito mais politizados do que os da USP, por exemplo, sem falar dos alunos das particulares onde a politização ainda é menor. NELSOM − Mas diria que politização num sentido amplo e correto é bom. O grande problema é quando vai só numa área. GRACIOSO − A ideologia a que me refiro é a ideologia de esquerda clássica, que pro- cura jogar quem temcontra quemnão tem. NELSOM – Exatamente. É uma ideologia baseada num raciocínio penoso para essa classe emergente – que é aquele individua­ lista dizendo que a sociedade depende do esforço das pessoas. Isso é penoso porque a ascensão social não depende apenas do esforço individual. Depende de políticas públicas, situação econômica e uma série de outros fatores. GRACIOSO − Alguns estudos de caráter qualitativo feitos na ESPM mostram algo curioso: essa nova classe C não é tão homogênea, tem nichos. As parcelas mais empreendedoras e ativas da nova classe C são de crença evangélica. Fala-se muito e nossos professores estão especulando bastante sobre a influência que o “pentecostalismo”, principalmente, estaria exercendo sobre a emergência dessa nova classe C. NELSOM − Também já ouvi isso. Minha hipótese é que essa corrente religiosa acaba fornecendo ao indivíduo uma proteção ime- diata maior. Eles se sentem mais protegidos nessa corrente religiosa do que em outras que valorizam a individualidade. GRACIOSO − Eles justificam o ganho, o lucro. NELSOM − Esta corrente religiosa acaba sendo mais pragmática, mais imediatista e está de acordo com a carência que esse pessoal sente. E é essa carência muito mais econômica e física do que espiritual que os motiva a participar. A questão baseada na Marangoni Nelsom

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