Revista da ESPM - JUL-AGO-2011

R E V I S T A D A E S P M – maio / junho de 2011 46 } Na última década, a renda dos 50% mais po- bres cresceu 68%, enquanto a renda dos 10% mais ricos aumentou 10%. ~ E N T R E V I S T A que às vezes se perde é a perspectiva de que o milagre econômico brasileiro durou um período de seis anos, de 1968 a 1973, com o Brasil crescendo a 13% ao ano. A população crescia muito, assim como a desigualdade. O Brasil voltou ao que era há 50 anos e agora zerou. Estamos no mesmo ponto que é o me- nor nível da história documentada desde os anos 60. É difícil e fascinante olhar para o país hoje e prever algo, porque se tentar fazer um raciocínio de crescimento equilibrado tudo está na mesma taxa. MESSEDER – De repente, o resultado surpreende. MARCELO – Aí a coisa está de cabeça para baixo. MESSEDER – A questão dessa nova classe média é interessante porque gera, por exemplo, preconceitos do ponto de vista das classes médias tra- dicionais, principalmente, em relação à questão cultural. Vimos, por exemplo, em São Paulo, o problema do Metrô de Higienópolis e as tais populações diferenciadas. Já no Rio de Janeiro, o ex-governador Leonel Brizola teve pro- blemas quando os ônibus começaram a fazer a ligação com a praia. MARCELO – Os aeroportos com o problema de congestionamento. Se essa classe média prosperar – e tem tudo para isso –, prepare-se, porque teremos longos engarrafamentos. MESSEDER – E a culpa não é de quem compra o carro. Talvez acirre essa di- ferença tradicional em relação à nova classe média. MARCELO – Isso pode gerar uma competição. Mas é preciso olhar as novas classes A e B do mesmo jeito que se faz com a classe C. MESSEDER – Como essa nova classe média percebe a educação? Esse item difere da percepção que a classe média tradicional tem da educação como valor? MARCELO – O brasileiro pode estar em forte mutação, mas acha que a educação é melhor do que ela realmente é. A questão é estar na escola, que era o lema do ex-presidente FHC: “Toda criança na escola”. Só que agora temos um upgrade no número de horas que essa criança passa na escola. Em 1970, cada brasileira tinha em média 6,2 filhos, agora tem 1,9. Isso é uma revolução. Olhando os dados, estatisticamente, tenho me surpre- endido muito. Tem uma coisa que gosto de chamar de Bônus Educacional, em alusão ao bônus demográfico, que é esse upgrade de uma situação ruim de educação para uma situação melhor. A grande vantagem do brasileiro é ter muitos problemas, e educação ser apenas um deles. Só que agora, por exemplo, se pe- gar a pesquisa de opinião sobre qual é a sua maior preocupação, a educação já aparece em segundo lugar. Antes, ela ocupava a sétima colocação. O povão está dando uma ênfase maior à educação profissional e priorização dos filhos: “Não tenho computador, mas mi- nha filha tem e está fazendo o curso técnico”. “Não sei se vou conseguir ir para a faculdade, mas meu filho vai”. Escutamos esse tipo de coisa, que não estávamos esperando, mas é bom encontrar. MESSEDER – As famílias estão desen- volvendo políticas de investimento muito claras no sentido de ascensão. Do ponto de vista da garantia da sustentabilidade desse processo, qual é o papel do Estado e das empresas privadas? MARCELO – Se olharmos as pesquisas de opinião, as próprias eleições e os discursos

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