Revista da ESPM - JUL-AGO-2011
maio / junho de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 47 S o f i a E s t e v e s de candidatos à presidência, todos falam o que as pessoas querem ouvir, que temos um Estado forte. O Brasil tem seguido o caminho do meio, ou seja, nem tanto ao mercado e nem tanto ao Estado. Econo- micamente, o país precisa crescer mais ou procurar fazer política social. Há alguns anos fizemos um projeto de avaliação de microcrédito na América Latina e conver- sando com as pessoas para saber o que elas queriam – educação, saúde – concluímos que a maioria queria subir na vida, ganhar seu dinheiro. Existe uma coisa privada que precisa ser entendida: a vida da pessoa não é necessariamente uma coisa de supermer- cado, um cálculo econômico puro. MESSEDER – Não é aquele que se opõe ao Estado. É uma combinação mais complexa. MARCELO – É a vida dele. Ele também tem esse otimismo em relação ao futuro, que cer- tamente influencia suas ações e o faz poupar pouco. MESSEDER – Tem uma capacidade de empreendedor. MARCELO – Ele tem, mas a nova classe média é representada muito mais pelo empregado com carteira formal, de pre- ferência um funcionário público e isso é preocupante. Não existem no Brasil pe- quenos empreendedores, mas sim grandes empreendedores. É diferente da Índia e outros lugares em que precisamos gerar isso, mas o número de pequenas empresas, hoje, está caindo no Brasil. O brasileiro prefere muito mais ter a carteira a ser autônomo. Ele quer estabilidade. Existe certo empreendedorismo, mas não é tanto quanto se imag ina. O cidadão se torna um empreendedor mais por necessidade e falta de opção. MESSEDER – No seu trabalho “Os emer- gentes dos emergentes”, você fala algo genial, que é dar o mercado aos pobres em vez de dar os pobres ao mercado. Qual o sentido mais amplo dessa questão? MARCELO – Nos últimos anos fizemos esse processo de dar os pobres aos mercados. As empresas gostaram, o brasileiro ado- rou ser “dado” ao mercado no sentido de exercer seu poder de consumo, mas falta o lado do empoderamento . E as pessoas estão correndo atrás desse conceito porque é ele que faz o consumidor poder mais do que antes. Muitas vezes, o Estado atrapalha nesse processo. MESSEDER – Em qual sentido o Estado atrapalha? MARCELO – Não cobrando imposto, com sua ineficiência e os problemas de corrup- ção. Com 35% do PIB de carga tributária e um gasto social de 22% do PIB, imagine se ele fizesse direito... Esse é o ponto. Apesar dos pesares, a gente vota e elege nossos governantes. São pontos polêmicos, mas falta educação, microcrédito e saber um pouco desse outro lado. Meu pai era um craque em marketing, que surgiu na década de 50, na época da escassez de demanda. Ali nasceu o marketing e também o Prin- cípio da Demanda Efetiva, formulado pelo economista John Maynard Keynes. E isso é exatamente o que as políticas e a atuação do Governo não fazem: apesar de chamar de mercado eleitoral, não olham as deman- das nem procuram ouvir o que a população precisa. Isso é uma visão mercadológica. Dar mercado aos pobres é no sentido do “eu sei o quanto é ruim, sei quanto meu filho está distante de um bom emprego, e ele precisa aprender”. Mas já existe uma coisa chamada Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). No fundo deveríamos falar mais com os brasileiros. Creio que as empresas estão fazendo isso, os políticos também. Sou otimista em relação à nossa capacidade de fazer a coisa certa, mas ainda temos muito o que melhorar. MESSEDER – Marcelo, muito obrigado! ES PM Neri Marcelo
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