Revista da ESPM - JUL-AGO-2011
julho / agosto de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 51 impacto na sociedade diante de seu grande volume? O quanto ela transforma o perfil tradicional da classe média apoiada sobre os segmentos A e B? Como e quanto ela impacta os diferentes processos de comunicação em jogo na sociedade brasileira contemporânea? Essas são algumas das questões que nos preocupame que iremos abordar commais detalhes adiante. II – Surge um novo ambiente social “O crescimento da classe média nos países emergentes é um dos fenômenos sociais e econômicos mais importantes da história recente. Sob diversos aspectos, parecem estar se repetindo, em escala ampliada, os processos que levaram, há mais de um século, ao surgimento da classe média dos países mais industrializados. [...] Assim, ao lado da chamada classe média A e B, cons- tituída pelos estratos médios mais antigos, coexistindo com ela e adquirindo hábitos semelhantes, observa-se cada vez mais a presença de indivíduos e famílias prove- nientes da chamada classe C”. 5 Resultado de um complexo conjunto de fa- tores, esse gigantesco processo de ascensão social está, rapidamente, trazendo para no- vos espaços de consumo e de sociabilidade, segmentos sociais que, durante muitos anos, viram-se bastante à margem dos benefícios da sociedade de consumo. Esses novos seg- mentos emergentes investem em informação e educação de modo crescente, interferindo na definição tradicional de cidadania. Mais conscientes de seus direitos e usufruindo de serviços que até muito recentemente consu- miam de forma “alternativa”, eles começam a cobrar do Estado políticas públicas que atendam aos seus interesses. “O grande símbolo da classe C é a carteira as- sinada”, afirma o chefe do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcelo Neri. A geração de postos de trabalhos formais nos últimos anos tem sido, segundo o professor, o fator decisivo para aproximar a estrutura social brasileira mais de um losango do que da antiga pirâmide de bases largas. “Essa característica torna a migração de classes mais sustentável do que se pensa”. 6 De acordo com dados do Data Popular, o con- tingente populacional da classe C, no Brasil, representava 38,8% da população em 2002, passou para 51,9% em 2010 e deve chegar a 58,5% em 2014. Ao mesmo tempo, o con- tingente da classe D era de 43,8% em 2002, passou para 32,3% em 2010 e deverá chegar a 26,5% em 2014. Não são números pouco expressivos. Ao contrário, falam de um grande processo de transformação da sociedade bra- sileira, apoiado sobre diferentes medidas de governo com foco na diminuição da pobreza e na distribuição de renda (sem esquecer a estabilização da moeda provocada pelo Plano Real), que datam mais especificamente do governo Fernando Henrique, muitas das quais foram mantidas e aprofundadas nos dois governos Lula e que, certamente, terão conti- nuidade nos próximos anos. Ao mesmo tempo, os números falam de um dinamismo econômico cres- cente no país capaz de gerar novos empregos e de alimentar, positiva- mente, iniciativas empreendedoras, de oportunidades de acesso ao mer- cado internacional, bem como de uma especial janela de oportunida- de do ponto de vista da composição etária da população brasileira, em função da qual há enormes contingentes de população em idade de grande atividade no mercado de trabalho. Todos esses fatores so- Resultadodeumcomple- xo conjunto de fatores, o gigantesco processo de ascensão social da clas- se C está, rapidamente, trazendo para novos es- paços de consumo e de sociabilidade, segmen- tos sociais que, durante muitos anos, viram-se bastante à margem dos benefícios da sociedade de consumo.
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