Revista da ESPM - JUL-AGO-2011
R E V I S T A D A E S P M – julho / agosto de 2011 52 mados e complexamente interligados parecem dar sustentabilidade a processos de ascensão social de grandes segmentos de população transformando bastante a dinâmica e mesmo a aparência da sociedade brasileira. Esse movimento de diminuição das desigual- dades econômicas e sociais não é um privilégio do Brasil e vem sendo observado em diversos países emergentes, com ênfase para os BRICs, e especialmente na América Latina. Reinaldo Gonçalves, professor e pesquisador do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ, discute amplamente o tema em trabalho intitulado “Redução da desigualdade da renda no governo Lula – análise comparati- va”. O estudo está baseado empainel composto por 12 países da América Latina, quais sejam: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Honduras, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. O trabalho foi amplamente comentado, ten- do sido também objeto da coluna de Merval Pereira, no jornal O Globo , com o título Desi- gualdade persiste. Embora tenha ocorrido queda da desigual- dade, de modo geral, os países da América Latina continuam com coeficientes de Gini (que medem a distribuição de renda), muito mais elevados do que a média mundial. [...] Segundo Reinaldo Gonçalves, o imperativo da governabilidade e a perpetuação no poder são os determinantes principais das políticas redistributivas na região, independentemente do modelo econômico-político vigente em cada país. As políticas redistributivas são funcionais na luta pelo poder político, mas, ressalta o trabalho de Gonçalves, semmudan- ças estruturais, como a reforma tributária, por exemplo, as principais políticas redistributivas na América Latina, em geral, e no Brasil, em particular, seguem a “linha de menor resis- tência”, visto que envolvem aumento do gasto público social e do salário-mínimo real. 7 A percepção e a atenção internacionais a esse conjunto de mudanças socioeconômicas tem sido objeto da imprensa internacional, com grande destaque para o Brasil. Publicações como o Financial Times ou The Economist têm publicado matérias que destacam o novo posicionamento do Brasil no cenário interna- cional e sua atratividade crescente do ponto de vista dos capitais internacionais. Uma das evidências dessa atenção internacional ao Brasil é a grande entrada de dólares no país, o que passa a ser objeto de um olhar interno mais cuidadoso. Entretanto, internamente, no Brasil, esse pro- cesso de transformação social, com a entrada em cena explícita de novos segmentos sociais que até então tinham presença muito mais discreta, não é sempre bem recebido pelos segmentos mais tradicionais, que já ocupavam a cena pública há mais tempo. Volta e meia se ouve alguém dizer que o culpado pelos engarrafamentos nas grandes cidades são aqueles que se aproveitaram das condições de financiamento que facilitaram a compra de automóveis, que os aviões agora estão lotados porque as pessoas não querem mais usar os ônibus interestaduais, ou, como vimos mais O coeficiente de Gini é um cálculo usado para medir a desigualdadesocial,desenvolvidopeloestatístico italiano CorradoGini,em1912.Apresentadadosentreonúmero0 eonúmero1,ondezerocorrespondeàcompletaigualdade na renda (onde todos detêmamesma renda per capita ) e 1 corresponde à completa desigualdade entre as rendas onde um indivíduo, ou uma pequena parcela de uma população, detêm toda a renda e os demais nada têm.
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