Revista da ESPM - JUL-AGO-2011

julho / agosto de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 53 recentemente no caso do metrô de São Paulo, moradores da tradicional região de Higienó- polis protestaram diante da possibilidade de uma nova estação de metrô no bairro levar até lá “populações diferenciadas”. A reclamação foi objeto de um churrasco de desagravo, em plena via pública, e bastante bem-humorado, que contou com a presença de inúmeros fu- turos novos personagens do elegante bairro. Fatos semelhantes são facilmente encontra- dos em outras cidades brasileiras, como no Rio de Janeiro, por exemplo, cidade que vem experimentando mudanças radicais em seu território, muito em função da presença das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), nas principais comunidades, dando maior trânsi- to, no espaço da cidade, a populações que an- tes circulavam commuito mais restrições. Ao mesmo tempo, é verdade, há grande fascínio, de parte da “população do asfalto”, diante da possibilidade de agora poder visitar lugares até recentemente proibidos para os “menos pobres”. Não podemos esquecer, entretanto, episódio já um tanto distante no tempo, que marcou fortemente a geografia socioeconô- mica do Rio de Janeiro – referimo-nos aos diversos comentários críticos que foram pro- duzidos quando, ainda no governo Brizola, nos anos 1980, foram remanejadas linhas de ônibus que passaram a dar amplo acesso às praias da zona sul a populações de subúrbios e das periferias da cidade como um todo. Porém, felizmente, o processo de mudança social parece ser claramente irreversível, e a ascensão da classe C é a evidência de trans- formações muito significativas pelas quais passa o país. Diante da sustentabilidade do processo, o pesquisador Marcelo Neri, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), e autor do trabalho intitulado Os emergentes dos emergentes , afirma que a década atual será marcada pelo “despertar das empresas” para essa nova reali- dade e continua: “Na última década, demos os pobres ao mercado, agora vamos dar o mercado aos pobres”. Ou seja, são esses novos segmentos sociais que terão um papel fundamental na manutenção da dinâmica econômica da sociedade brasileira – “[...] os novos consumidores serão os responsáveis por manter o giro da roda da economia, ao consumir mais educação, informação e buscar acesso a serviços de qualidade”. 8 III – Impactos nos negócios e nas práticas de consumo e comunicação Oferecer produtos e serviços para essa nova classe média, assim como desenvolver estra- tégias de comunicação capazes de sensibilizá-la requer compreender que os caminhos e métodos adotados pelas corporações até recentemente precisam ser revistos. O fato de o consumo da nova classe média ser aspiracio- nal ou de inclusão não significa que as marcas possam reproduzir os mesmos modelos de negócio, de marketing e de comunicação para esse público, nem que essa nova classe média No caso das estratégias de negócios e de comu- nicação voltadas para a nova classemédia, mais do que nunca, “relacio- namento” é o que vai di- ferenciar uma marca de sucesso daquelas que tentam impactar esse público através de ve- lhas práticas e arrastam prejuízos pelo fracasso de suas estratégias. } Na última década, demos os pobres ao mercado, agora vamos dar o mercado aos pobres. ~ M arcelo N eri r celo N eri

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