Revista da ESPM - JUL-AGO-2011
R E V I S T A D A E S P M – julho / agosto de 2011 88 } Na classe média, o voto con- ser vador é aquele que con- serva esse públ ico onde está, porque pa ra chega r a esse patamar foi di f íci l. ~ MÁRIO –“ A classe média é aquela que fica entre o desejo de comer caviar e o temor de não comer nada ”. Lembro de ter ouvido esta frase numa peça de teatro nos anos 80. Essa é uma boa definição de fronteiras. Um dos pontos polêmicos desta pauta é se a classe média pretende continuar fa- vorecendo o PT ou tenta aproximar- -se do voto conservador.Atualmente, o voto conservador é no PT? MARCOS – Na classe média, o voto conservador é aquele que conserva esse público onde está, porque para chegar a esse patamar foi difícil. De 2005 a 2010 registramos um cresci- mento de, praticamente, 50 milhões de pessoas ascendendo à classe C. MÁRIO – Classe média é classe B ou classe C? FÁBIO – No nosso país temos um problema que, na verdade, é um grande desafio em relação ao crité- rio de classificação socioeconômica. Omercado utiliza o“Critério Brasil”, mas ele nunca foi pensado para ser uma classificação socioeconômica e sim um critério de potencial de com- pra. A definição também é confusa. Eu, por exemplo, estudei na ESPM e fiz Ciências Sociais na USP, onde to- dos se autointitulavam classe média. Trabalhei durante muito tempo em agência de propaganda, onde todos afirmavam ser classe média alta. Nas novelas, vemos que o rico é aquele que pega o helicóptero, sai de Angra dos Reis onde mora e vai trabalhar no Leblon; o restante é classe média. Hoje, temos essa questão: o que é, de fato, a classe média? Isso porque quando se pensa em classe C, nos deparamos com critérios diferentes. Cada instituição − desde o IBGE até a FGV − tem uma definição. DANILO – Mas estamos falando de critérios econômicos e de consumo, não de nível cultural, educacional e de informação. É o padrão de renda que aumentou: os shoppings estão vendendo mais, o comércio e a economia estão crescendo e muito mais gente tem dentro de casa o que antes não tinha: em vez de uma televisão, tem duas; dois ou três ce- lulares; um carro na porta; geladeira; todos os equipamentos necessários. Quando se preenche um formulário ou documento para se credenciar a algum financiamento é necessário informar quais os bens disponíveis, se tem casa própria etc. Isso é o que poderíamos chamar de classe mé- dia: aquela que tem acesso a bens. Mas essa é a questão ou estamos falando de um acesso à informação e ao consumo cultural? Um exem- plo é o número de pessoas que têm TV por assinatura. A TV aberta já não classifica mais ninguém, é para todos, enquanto a classe média é aquela que tem TV por assinatura. MÁRIO – Antigamente, havia os nobres muito ricos e os vassalos bem pobres. À primeira vista, parece que ainda temos os muito ricos − que viajam de helicóptero e possuem apartamentos na Europa e nos Estados Unidos –, e os mi- seráveis. Mas existe um grupo que não tem helicóptero, não é muito pobre e é chamado de classe média. Quanto ganha e de onde vem esse cidadão“médio”? MARCOS – O critério não é por renda. É por bem adquirido. Para ascender, a pessoa precisa adquirir determinados bens, e um deles, por incrível que pareça, é a educação.Ter um automóvel, duas televisões, um ou dois banheiros, uma TV por assi- natura é o que lhe permite ascender no critério econômico de classifi- } Para ascender, a pessoa precisa adquirir determinados bens e um deles, por incrível que pareça, é a educação. ~
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