Revista da ESPM - JUL-AGO-2011
julho / agosto de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 89 } Dentro do cr i tér io de posse de classi f icação social, a educação é o único bem que você não perde, não t i ram de você. ~ cação. É posse. Por isso que, se eu perder o emprego e meu salário virar zero, não caio para a classe E. DANILO – Você continua com os bens. MARCOS – Isso só ocorre no mo- mento em que eu começar a me livrar desses bens e transformá-los em renda. Na próxima pesquisa posso descender. FÁBIO – Mas esse é um dos cri- térios. Nas políticas públicas, por exemplo, o critério é renda e não posse.Até porque quando se fala em posse, os produtos têm diferentes significados conforme o contexto e a cultura da região. No Rio de Janeiro é comum encontrar ar condicionado pela cidade. Em São Paulo e no Sul, o consumo desse produto é menor. Hoje, o varejo opta pelo critério de renda que é utilizado nas políticas públicas e também para o crédito dado, a partir da renda familiar mensal. Passamos por várias faixas de rendas, que atendem a interesses diferentes. Quando se passa pelo IBGE, pelas instituições públicas, vemos faixas de renda menores que vão responder à classe média. Quando se pensa no varejo, tra- balhamos com uma faixa de renda familiar de cinco a dez salários-mínimos na classe média, sendo que o salário-mínimo está em torno de R$ 545,00, em nível nacional. Mesmo assim, vemos empresas fa- zendo cortes diferentes para definir as faixas de renda. PAULO – Tenho uma visão mais drástica sobre esse assunto: isso tudo é uma farsa principalmente se considerarmos como qualidade de vida, a vivência dentro de um lar melhor aparelhado com itens de conforto doméstico. Não resta dúvida de que há um crescimento no número de pessoas que estão ten- do uma melhor qualidade de vida porque estão vivendo em lares mais equipados. Mas a discussão sobre a questão do nível de crescimento da classe média no Brasil é uma farsa política e que nós, membros da clas- se média, caímos nessa história. Es- tamos reproduzindo esse conto por- que o crescimento da renda ocorre em níveis extremamente inferiores aos níveis de crescimento em que essa população de classe média cresceu. Percebe-se que houve uma melhora no nível educacional da po- pulação brasileira, em níveis extre- mamente inferiores ao crescimento dessas 50 milhões de pessoas que entraram no mercado. Então, o que está ocorrendo é o endividamento extremamente acentuado de uma parcela significativa da população brasileira para adquirir os bens de consumo que dão, em curto prazo, uma qualidade de vida melhor. Estamos financiando, o comércio está vendendo mais, o governo está arrecadando mais. Esses dados são reais, mas não há nenhuma sus- tentação na mudança das questões estruturais da população brasileira.
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx