Revista da ESPM - JUL-AGO-2011
julho / agosto de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 91 } Nas pol í t icas públ icas, por exemplo, o critério é renda e não posse. Até porque quando se fala em posse, os produtos têm di ferentes signi f icados conforme o contexto e a cul tura da região. ~ que há um acesso ao consumo, que gera uma série de consequências positivas e negativas. Isso provoca uma certa sensação de inclusão, porque não ter luz, geladeira e vários outros itens é estar totalmente fora da sociedade de consumo. MÁRIO – O crédito está fácil, as pessoas estão se endividando. Existe algum risco de haver uma espécie de bolha, como no caso do mercado de imóveis nos Estados Unidos? O ponto levantando pelo Marcos é perfeito: as pessoas que não tinham acesso à luz começaram a ter, e aí adquirem geladeira, fogão etc. Ago- ra, vamos pensar em carro, aparta- mento. Como posso viver bem sem esses bens? Então vou me endividar para comprar um apartamento que tenha terraço gourmet , despensa na garagem e cinco vagas… PAULO – Dias atrás li um livro in- teressante, A era do envelhecimento (The Age of Aging), cujo autor (Ge- orge Magnus) é um demógrafo que faz uma análise do movimento que está ocorrendo na sociedade e nas economias em função do envelhe- cimento da população mundial.Vi- vemos uma realidade na qual ainda temos uma grande parcela de jovens entrando no mercado, um processo que deve ser finalizado por volta de 2030, quando o Brasil terá uma população economicamente ativa menor do que a população que não trabalha. Esse processo já se iniciou em alguns países. O fato é que a po- pulação está se endividando dentro do pressuposto de que a elasticidade da renda é infinita, mas não é. Vejo pessoas comprando imóveis agora, com financiamento de 20, 30 anos, com juros e correção em torno de 15% a 17% ao ano, e fico pensan- do: como se sustenta o aumento de renda numa escala de 15% a 17% ao ano, durante 20 anos? É impossível. Nos mercados ameri- cano e europeu isso explodiu com juros de 4% a 5% ao ano, enquanto estamos carregando 17% ao ano com a classe média. Não há como sustentar isso. Há custos no mer- cado brasileiro de absolutamente tudo. Li uma matéria interessante no jornal O Estado de S. Paulo sobre o custo de vida na cidade de São Paulo, que já é a quarta cidade mais cara do mundo. Dias atrás, ligou-me um corretor da cidade onde mora minha mãe, querendo comprar uns terrenos. Quase man- dei um taxi aéreo buscá-lo, dado o preço que ele oferecia. Olho aquela cidade com 80 mil habitantes há 15 anos e penso como um terreno pode ter valorizado desse modo? Nosso país está melhorando, mas é um processo lento e confuso, pois há problemas com o PAC, a corrupção, o nível educacional... É como se estivéssemos melhorando um país a dez por hora, com um crescimento desta classe média a 200 por hora. De repente, achamos que o negócio está a 200 por hora, um conto que nos foi contado na eleição passada e nós compramos. DANILO – Sua análise é como se fosse um elemento para uma deci- são de caráter político de escolha. Não encaro dessa maneira. Existe um desenvolvimento efetivo, que talvez não seja tão extraordinário quanto o que estão querendo ven- der. Agora, de fato existe no país um crescimento da renda que leva ao aumento do consumo e está vinculado a programas públicos de governo sem sustentação. O“Bolsa Família”é um grande programa de melhoria da renda da classe mais excluída, mas ele não tem susten- tação se não tiver uma porta de saída adequada. Então, a questão do crédito é um fato, mas como anda o índice de inadimplência efetiva, existe algum tipo de calote coletivo nacional? Isso vai confirmar aquilo que você expos. Então, mais cedo ou mais tarde chegará a era do calote. MARCOS – Sem dúvida. Mas não existe calote ou qualquer cresci- mento da inadimplência. O que existe é o que chamamos de novos entrantes que precisam ser ensina- dos. Um exemplo que gosto de citar aconteceu no México, que instalou o famoso bureau positivo. As insti- tuições financeiras descobriram uma camada da população que − segun- do os critérios estatísticos de discri- minação de risco − não deveriam receber crédito. Passaram a ofertar
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