Revista da ESPM - JUL-AGO-2011

R E V I S T A D A E S P M – julho / agosto de 2011 92 } A educação como formação e pensa- mento está deixando a desejar, não por falta de vontade das escolas, mas porque o jovem está completamente perdido no instante em que entra numa empresa. ~ de maneira errada e houve um ca- lote. Mas foi um calote individual que não pode ser confundido com a engenharia financeira dos bancos de investimento armada nos Estados Unidos. Nesse ponto concordo que temos de criar mecanismos para educar a população. Esse é o maior desafio das instituições financeiras. FÁBIO – Quanto esse desenvolvi- mento é, de fato, sustentável? Hoje, o mercado está com uma série de dificuldades na contratação de mão de obra para atender à nova classe média. Esse público também precisa ser empregado, mas não consegue responder às vagas justamente por falta de especialização e também por traços da nossa identidade cultural. Pobre não gosta de atender pobre. Nos deparamos com uma série de paradoxos sociais e culturais. Cos- tumo brincar que falar sobre classes populares no Brasil é ótimo porque, na verdade, estamos falando sobre nós, já que esses valores não são estáticos e presos a uma classe. A sociedade é dinâmica e tem uma negociação de valores que transitam entre todas as classes. MÁRIO – Para simplificar, usando uma pequena metáfora: como em um exercício de teatro, quem – como profissão ou figura – simbo- lizaria cada uma das classes sociais − A, B, C e D? FÁBIO – Quanto à personagem, para a classe C arriscaria a moça do telemarketing porque ela é jovem – é o que se nota na nova classe C, liderada pelas mulheres, principal- mente. Vemos que a escolaridade dessas mulheres hoje na classe C está maior do que a dos homens, elas têm uma maior empregabi- lidade no mercado. É a moça que trabalha seis, sete horas por dia e está pagando a faculdade porque quer mudar de vida, quer ascender. Já notou que o país está mudando. Vai aos shoppings de classe A e senta na praça de alimentação con- tente, come seu lanche, assiste a um filme no cinema, depois vai para o ponto de ônibus e volta para casa. Essa ideia de que a classe C está somente na periferia não acontece mais. Notamos um deslocamento e o crescimento das periferias, até mesmo por investimento imobiliá­ rio. Claro que a classe C ainda é constituída de pessoas que depen- dem mais do transporte público e demandam de duas a três horas diárias no transporte, mas não po- demos também rotular e pensar que é só do subúrbio, da periferia porque em algumas cidades já se observa esse movimento mais espalhado. MÁRIO – E qual é o perfil da B, essa “classe média sem rosto”? PAULO – O funcionalismo público está fortemente nessa classe: os professores, servidores da saúde e até mesmo os operários. MÁRIO – Na média? PAULO – Nesse segmento, média baixa. Temos outro segmento – da classe média alta – que é composto por médicos e advogados recém-formados e suas famílias. Dentro

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