Revista da ESPM - JUL-AGO-2011
R E V I S T A D A E S P M – julho / agosto de 2011 94 } Um dos elementos vi tais para aqueles que ascen- dem é descobr i r uma manei ra de melhorar a vida da famí l ia. I sso signi f ica escola e educação. ~ do que nós. Embora pareça que nossa vida é muito materializada, existem satisfações ou insatisfações que podem tornar sua vida absolu- tamente desclassificável.Você pode ser classe média ou classe alta e, no entanto, ser uma pessoa mais ou menos integrada numa sociedade com maior ou menor padrão de felicidade. FÁBIO – Critério de classificação é sempre um desafio que nenhum sociólogo conseguiu dar conta. Para Karl Marx era somente duas ou três classes, depois Max Weber pontuou várias. Recentemente, o Serasa Experian fez um trabalho interessante de segmentação da população, onde não está conside- rado esse item felicidade, que é algo muito relativo. Mas considera o ciclo de vida que você está e o padrão de acesso ao crédito que você tem na- quele momento. Um jovem que saiu da faculdade está num determinado momento do ciclo de vida. Por mais que ele seja classe A, vai ter aí uma série de benefícios que vem da fa- mília, mas precisa compor sua vida. É como costumamos brincar que só se tem acesso a alguns itens do mercado de luxo – como um Porsche ou uma Ferrari – a partir de uma determinada idade, porque aquilo não tem significado ou não faz sen- tido naquele momento do ciclo de vida. O que todos concordam é que precisamos ensinar a esse público – que passou um século como pobre, miserável e excluído − a entrar em um banco e conversar com o gerente ou ainda perguntar o que significa determinado produto financeiro. Antes, eles iam ao banco apenas para receber o salário e pagar con- tas. E ainda pegavam uma fila dos “não especiais”que os desmerecia. Hoje os bancos abrem as portas para conquistar essa nova classe. PAULO – Existe ummovimento real de transformação que está mudando a face do mercado nacional de forma mais consistente. Na década de 70, tínhamos 70% da população na área rural e 30% na área urbana. Hoje, 85% da população estão na área urbana e apenas 15% na rural. Essa transformação veio acompanhada de uma mudança gradativa, já que por mais pobres ou simples que es- sas pessoas possam ser, elas repre- sentam a terceira ou quarta geração dos migrantes da década de 60, que, gradativamente, mudaram o nível educacional. Quando você analisa o número de crianças que estão fora da escola, na grande totalidade dos municípios brasileiros não passa de 2%. Isso faz parte de um processo de anos, que aumentou o nível de educação e diminuiu o índice de analfabetismo ainda que formal no país. Embora as faculdades tenham sua qualidade de ensino questiona- da, o fato é que hoje o Brasil conta com 35 milhões de pessoas com formação universitária. Por mais precária que seja, prefiro ter alguém com uma formação universitária do que alguém semianalfabeto. MARCOS – Porque ele já tem noção do que pode ser. PAULO – Exatamente. Dias atrás saiu na imprensa o resultado de uma pesquisa na qual os alunos de 90 escolas que participaram do exame da OAB tiraram zero. Embora seja dramática a qualidade de ensino, isso muda a referência das pessoas. Ele pode ser um advogado formado que tirou zero no exame, mas tem uma visão de mundo diferente da- quele que parou no ginásio. Hoje as empresas estão investindo pesado em educação para complementar o ensino formal e isso está mudando a cara do país. Poderia ser um proces- so mais acelerado se o governo, em vez de praticar o neocolonialismo com o movimento educacional, in- vestisse emuma transformação mais sólida da sociedade, como ocorreu com a sociedade coreana. Já esse fenômeno de consumo do Brasil está associado a uma taxa de endi- vidamento baixa que aparecia em qualquer estudo feito por consul- torias internacionais. Nossa relação de PIB e endividamento era baixa, subimos para pouco mais de 40%. Esses países que estão com proble- ma têm taxa de endividamento de 150% a 160% do PIB. Até chegar
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