Revista da ESPM - JUL-AGO-2011

R E V I S T A D A E S P M – julho / agosto de 2011 96 } O que está ocorrendo é o endividamento extremamen- te acentuado de uma parcela signi f icat iva da população brasileira para adquir ir esses bens de consumo que dão, em cur to prazo, uma qual idade de vida melhor. ~ comércio, por exemplo, existe um respeito do atendente, do vendedor para com o cliente, porque antes de cliente, ele é um cidadão. Se algo que comprou deixou de funcionar, a troca do produto é feita diretamente na loja. Não é preciso nem compro- var com nota, porque não é possível que esse cidadão esteja mentindo. É uma questão de cidadania. PAULO – No mercado americano é a mesma coisa. MARCOS – Mas são três mil anos de história contra cinco anos de inserção versus 15 anos de “levar vantagem em tudo”, que até então era o nosso lema. FÁBIO – O principal da educação não é a formação do profissional, mas a formação da cidadania. Te- mos de acelerar, porque estamos num momento de transição e não somente o Brasil, mas todo o ce- nário mundial. Estamos vivendo décadas de rápidas transformações tecnológicas, até mesmo políticas em termos também de direitos humanos, de demografia. Estamos assistindo a mudanças aceleradas do modelo mental da população ao lidar com esses problemas. Para isso basta analisar o que era um celular em 2000 e no que o aparelho se transformou em 2011. Antes, ele servia apenas para efetuar ligações. Hoje, por acaso, ele também faz ligações. Esse processo da educação é muito vivo, dinâmico e só come- ça a despertar agora, justamente, num cenário mundial de grandes transformações. Então, não é uma tarefa fácil. MARCOS – A transformação rápida virá pelo acesso à informação, que vai acontecer antes da educação de que estamos falando. DANILO – A educação é um pro- cesso de informação também. É per- manente. Na realidade, começamos a ser educados quando nascemos e isso só termina na hora final. FÁBIO – A informação está mesmo vindo antes da educação.Tenho visto isso em estudos de classes populares na áreamédica. Uma série de pacien- tes que estão no hospital público tem uma formação educacional muito precária, mas discutem com o médi- co:“Eu pesquisei na internet e vi que minha doença é isso…” DANILO – Mas isso é educação, é o bom uso da informação. Esse é o conceito que quero trazer, ele é per- manente e está presente em todos os lugares, na família etc. Com re- lação a essa questão da visão inter- nacional, o Brasil é, de certa forma, a bola da vez, não apenas no plano político, com um presidente que empolgou e mostrou ao mundo um jeito de ser diferente. É uma nação com características próprias, uma dimensão extraordinária em com- paração com a maioria dos países e uma variedade de influências e for- mação étnica. E apesar de todos os nossos problemas, temos a questão da igualdade absoluta no Brasil. Esse é um dado novo, mas assumido de uma maneira diferente. Aceitamos isso apesar de termos tido uma escravidão recente – 120 anos. Já a Europa vive um drama de conviver com os diferentes porque o refluxo da colonização chegou lá – Europa Oriental, norte da África, os países da Ásia estão chegando aos países europeus com muçulmanos e seus hábitos alimentares e de vestuário. Para essa parte do mundo, temos de mostrar como se vive a diferença. É uma sociedade nova no mundo inteiro pela dimensão e força: já somos quase 200 milhões de habi- tantes e isso pesa! Em 2009 tive um envolvimento com o “Ano da França no Brasil”e muito contato com o ce- nário daquele país. Os franceses nos trouxerammuita coisa interessante e têm muito a ensinar aos brasileiros no que diz respeito a determinados

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