Revista da ESPM - MAI-JUN_2007

10 R E V I S T A D A E S P M – MAIO / JUNHO DE 2007 a capacidade de não se afogar; Hera, a curiosidade; Hermes, o charme e a beleza – ao que Zeus acrescentou a inquietude. Não se sabe se foi Hermes ou Zeus que lhe deram, como dote, uma caixa miraculosa que não deveria jamais ser aberta. Quase todos conhecem o final da história: a curiosidade de Pandora levou a melhor e ela, um dia, abriu a caixa, de onde saíram todos os males da humanidade, exceto um, que ficou, quando Pandora, ater- rorizada, fechou, de novo a caixa. Este mal – ou bem (Hesiodo não se decide) – é a Esperança. UM HOMEM ENVOLTO EM SI MESMO FAZ UM PACOTE BEM PEQUENO. John Ruskin (1819-1900) É evidente o paralelismo da lenda com o Gênesis bíblico, de Adão e Eva e do pecado original. E, certa- mente, a expressão multidiomática – Caixa de Surpresas – tem a ver com Pandora. E lembra, também, a célebre canastrinha da Emilia, do Sítio do Pica-pau Amarelo, em que cabia quase todo o mundo da fantasia lobatiana. CAIXA – do latimcapsa – deu também cofre e cápsula, em português, além de caja (espanhol), caisse (francês), kasse (alemão) e cash (inglês). As expressões Caixa Econômica, Caixa Registradora e Cash – em inglês – para designar dinheiro em espécie, todas se originam da função milenar atribuída a este tipo de embalagem, para a guarda de tesouros. Esse sen- tido quase mágico esteve sempre presente nas caixas de recordações – que pessoas usam até hoje – desde as elaboradas caixas esculpidas, com chaves e segredos, até as mais modestas caixas de charutos ou de sapatos. Temos, também, a caixa preta dos aviões e da cibernética, a caixa forte do Tio Patinhas, o baú da felicidade e muitas outras. E LEMBRA, TAMBÉM, A CÉLEBRE CA- NASTRINHA DA EMILIA, DO SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO, EM QUE CABIA QUASE TODO O MUNDO DA FANTASIA LOBATIANA. EMBALAGENS ESTÃO INTIMA- MENTE LIGADAS AO SER HU- MANO E SEU CORPO, DESDE A CONCEPÇÃO, QUANDO O FETO PRINCIPIA A SER GES- TADO DENTRO DE UM SACO: O ÚTERO, QUE LHE SERVIRÁ DE PROTEÇÃO E PRIMEIRAMO- RADIA – COM IMPLICAÇÕES ESTRUTURANTES DA SUA PER- SONALIDADE, QUE O ACOM- PANHARÃO ATÉ A MORTE. Embalagens estão intimamente ligadas ao ser humano e seu corpo, desde a concepção, quando o feto principia a ser gestado dentro de um saco: o útero, que lhe servirá de proteção e primeira moradia – com implicações estruturantes da sua personalidade, que o acompanha- rão até a morte – quando poderá ser sepultado dentro de um caixão ou uma mortalha, que – no tempo dos egípcios – viravam múmias e sarcófagos. Alguns bebês, ao nas- cer, ainda conservam uma espécie de shrinkpack : o saco aniótico. O maior órgão do corpo humano – embora recentemente considerado como tal – é a pele, que lhe serve de envoltório – ou embalagem. A caixa toráxica contém o coração e o pulmão; a caixa craniana, o cérebro; assim como o saco escro- tal, as preciosas glândulas sexuais masculinas. Merece destaque uma palavra origi- nalmente delicada, até melódica, – mas que foi irremediavelmente A magia das embalagens

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx