Revista da ESPM - MAI-JUN_2007

Entrevista 44 R E V I S T A D A E S P M – MAIO / JUNHO DE 2007 SÉRGIO HABERFELD – A existên- cia de uma organização mundial de embalagem, como a World Packaging Organization, é bem interessante, porque se pode di- vidir o mundo em várias áreas, para perceber que uma não tem nada a ver com outra. Isso ficava claro para mim, quando havia o julga- mento das melhores embalagens. Por exemplo, da Rússia vinha uma lata muito bonita, bem trabalhada, com o desenho daquela boneca russa, a matrioska. Depois, uma embalagem do Canadá para se colocar a raiz de pinho que ficava protegida e dispensava furos, para plantar no jardim. Como é que se julgam essas duas coisas? Afinal, lata é lata! Eram realidades completamente diferentes; aprendi muito sobre os diferentes estágios de desenvolvi- mento de cada país. Gosto de dar o exemplo de Samara, uma cidade a mil quilômetros de Moscou, onde o primeiro supermercado abriu as portas há cinco anos. Até então vendia-se tudo nas feiras, nas esquinas. O pessoal chegava do interior com a mercadoria, postava-se pelas ruas de entrada da cidade (com vários milhões de habitantes) e as pessoas iam comprar. Tudo no chão. O que não queriam, jogavam fora e tudo que sobrava jogavam no caminho. Na semana seguinte estavam de volta. A primeira preocupação deles passou a ser a caixa de papelão, para transportar. Antes, vinham com sacos, daqueles feitos à mão. Então, quando se vai julgar é pre- ciso julgar a caixa de papelão de Samara, porque estão resolvendo um problema; comparar isso com uma embalagem para a dona-de- casa plantar uma plantinha no seu terraço, não dá! Outro exemplo está acontecendo agora, em um excelente trabalho realizado em Angola. Chamaram a Odebrecht – que construiu o aeroporto de lá – e pediram para a empresa organizar um supermercado, pois o custo dos alimentos estava alto demais. A Odebrecht chamou o Marcos Gouvêia de Souza e disse: “Você, que é analista de supermercado, resolva o problema. Para isso tem exatamente 12 meses”. Gouvêia levou tudo do Brasil, mas teve problemas. O porto não tinha estrutura para poder retirar “EU ERA SIMPLESMENTE O FILHO DO DONO, COLOCADO ALI PARA APRENDER.” rio. Ele, então, proibiu o uso de sacos plásticos no país. Com isso, faltou arroz, faltou feijão, faltou tudo, nas lojas, porque não havia saco plástico. Isso é o extremo de um país subdesenvolvido. O Brasil tem, mais ou menos, um sistema misto. Você diz ao cli- ente: “Sua embalagem vai custar mais caro, vamos usar tintas mais solúveis em água, materiais reci- cláveis que se separam melhor”. E a resposta é: “Quanto vai custar?” E assim, ninguém faz nada. Claro que o futuro terá de ser liga- do, de certa forma, a materiais que não agridam o ambiente. É para lá que o mundo deverá caminhar. FABIO – Você foi presidente da WBO – que é a organização mun- dial da embalagem – visitou vários países, conviveu com pessoas ligadas a embalagem em diversos lugares; gostaria que falasse um pouco sobre essa experiência.

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