Revista da ESPM - MAI-JUN_2007
Mesa- Redonda JR – Gostaria de iniciar, lembrando uma observação do publicitário francês Jacques Seguela – conhecido por dizer coisas que escandalizam as pessoas –, algo assim “Como explicar aos meus filhos que o que eu faço é glorificar tristes iogurtes?” Nunca esqueci a expressão “tristes iogurtes”. Pergunto: para alguém que cuida só da embalagem desses tristes iogurtes, o que pode haver de universal, interessante – ou polêmico – para discutir? GRACIOSO – Antes, gostaria de fazer um breve preâmbulo – citando o Fabio Mestriner, que aqui está e me deu essa informação: na média, no Brasil, as embalagens represen- tam de 20 a 30% do custo final do produto. É algo que faz pensar. Talvez seja o item de custo mais elevado para a maioria dos produ- tos embalados que encontramos no supermercado. FABIO – Aceitando a provocação do J. Roberto, muitas vezes nós – que trabalhamos na área de embalagem – confrontamo-nos com afirmações desse tipo. É fato que não há uma visão da importância e das dimen- sões da embalagem fora dos meios especializados. Recentemente fui o curador da mostra de embalagem da Bienal de Design – e foi uma luta colocar a embalagem lá. Os outros participantes achavam que podia entrar móvel, automóvel, equipamentos domésticos etc., mas que embalagem é algo banal. Minha argumentação foi a de que, por mais simples, até pobre, que seja uma casa – ela pode não ter nem um móvel, nem eletrodoméstico – mas ao menos uma lata de sardinha lá estará... Trata-se do design que participa do cotidiano das pessoas, habita o seu imaginário e a própria vida. Assim consegui convencê-los. JR – Eu gostaria que cada um de vocês falasse da própria visão sobre o assunto embalagem. LUCIANA – Na sociedade atual, a embalagem é uma ferramenta es- tratégica: 80% da população estão concentrados em centros urbanos e a embalagem é essencial para fazer com que cada produto chegue, de maneira adequada, para cada consumidor. E mais: a embalagem expressa todo o cuidado de uma empresa com o seu consumidor, é a sua ferramenta na relação com ele e tem de garantir a qualidade e segurança de consumo, atendendo às necessidades reais e objetivas em relação àquele produto – e também às necessidades emocionais e sub- jetivas. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Embalagem - ABRE dimensiona o tamanho da indústria de embalagem no Brasil, em 2006, em R$ 33 bilhões. Na verdade, a indústria é ainda mais abrangente, pois está por trás de uma indústria alimentícia, que representa R$ 200 bilhões anuais, uma indústria far- macêutica de R$ 30 bilhões, uma indústria cosmética que gera R$ 200 bilhões. JR – Não poderiam existir nem distribuir seus produtos sem as em- balagens... LUCIANA – O mercado é global, está ficando mais complexo e as necessidades locais precisam ser atendidas com embalagens espe- cíficas. SILVIA – Se, por um lado, a em- balagem tem todas essas virtudes, por outro, uma vez que o produto adquirido cumpriu a sua função e a embalagem é descartada, passa a ser a vilã do meio ambiente. Aí ela é ruim, poluidora. Como todas as embalagens – de todos os tipos – podem ser recicladas, o que pre- “A PALAVRA “BIODEGRADÁVEL” É BOA E VENDE.”
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