Revista da ESPM - MAI-JUN_2007
A nova fronteira da embalagem JR – Vocês entraram num terreno altamente técnico. Sou também consumidor, gostomuito de cozinhar e tenho freqüentes contatos com produtos e embalagens. Bacon em fatias: rasgo a caixa inteira porque não abre; caldos, é impossível tirar a aba, rasgo a embalagem e os cubos se espalham; lata de azeite, puxa aqui, puxa ali e não acontece nada; iogurte, manteiga, congelados, le- vanta-se a aba, quando se consegue encontrar, aí sai aquela tira fininha e não abre. Os anéis de lata de cer- veja, sardinha, comida de gato, são duros, quebram a unha; certa vez, puxei o anel e cortei o dedo. E os CDs? Diz: rasgue aqui. Alguém já conseguiu abrir um CD, rasgando ali? Gostaria que vocês falassem um pouco sobre isso. WILSON –Todos nós somos consumi- dores; por dever do ofício, um pouco mais atentos. Na verdade, a lata de comida de gato não corta mais; hoje abre fácil. JR – E aquele anel de plástico que você puxa e ele sai na sua mão e a embalagem fica fechada? Ontem, por exemplo, não consegui abrir a tampa de uma lata de palmito! WILSON – Aí está o problema do custo, provavelmente o sistema de fechamento... JR –Você quer dizer que a culpa é do consumidor? Porque, no Brasil, tem isso: o cidadão é que leva a culpa. WILSON – Acho que isso nos leva ao tema central das novas fronteiras da embalagem. Do meu ponto de vista, essas novas fronteiras estão em dois focos principais: um deles são as empresas. Dentro das empresas que já tomaram consciência da necessidade de resolver os problemas sobre o que estamos falando aqui: design, ambiente, facilidade de comunicação etc. Mas isso é sempre tratado sob o foco do custo – tem de baixar o custo de qualquer maneira. Por isso é boa essa iniciativa da Escola de preparar administradores estratégicos da em- balagem, com poder de decisão... Atualmente, a pessoa que decide sobre embalagem, na empresa, temde ouvir o diretor industrial, o diretor de marketing, o diretor financeiro, o pes- soal de suprimento e não tem poder de decidir. Pelo que acompanho, fazendo a revista mensalmente, isso não é tratado de forma estratégica dentro das empresas. A outra fronteira está na força do governo para educar o consumidor. É uma questão de desenvolvimento da educação da população em nível global, para que ela tenha consciência de cada ato – é educação básica, começando na escola primária. FABIO – Esses problemas que o J. Roberto citou, não há um só lugar, em que a gente vá fazer uma palestra, que a questão não surja. Quando dou uma entrevista no rádio, o pessoal começa a ligar para falar exatamente dos problemas que têm para abrir as embalagens.Mas vejambem: a função da embalagem não é apenas abrir; é muito mais fechar, porque se não fechar hermeticamente, não cumpre a sua função de preservar o produto. Desenvolvermecanismos facilitadores da abertura e dispensa do produto exige tecnologia e investimento. Quando criaram aquela tampinha crown para garrafas, não existia uma forma de fechar, adequadamente, a bebida com gás. A Crown tornou-se a maior empresa de embalagem do mundo, porque conseguiu encontrar a solução. E, para abrir a garrafa, criou-se uma ferramenta: o abridor de garrafa. Como as chaves, para abrir as latas de sardinhas. Hoje, dependendo da embalagem, não é necessário. Mas há problemas de custo e de investi- mento em tecnologia. Como somos um país de baixa renda, as empresas
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