MAI-JUN-2011
maio / junho de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 109 Aliás, o déficit encontrado nessa faixa etária é facilmente percebido pelo tipo de ocupações ofertadas pelo mercado de trabalho: o Brasil gerou, entre 1995 e 2005, 17,5milhões de novas vagas, mas apenas 1,8 milhão foi preenchido por pessoas entre 15 e 24 anos de idade 4 , o que significa que este mercado está se transfor- mando num segmento saturado, especialmen- te pelos jovens de baixa renda e sem visíveis oportunidades de aumentar sua escolaridade e qualificação profissional. Curioso, todavia, é observar que justamente nesta faixa etária existe um importante item da empregabili- dade, que é a fácil adaptação ao trabalho. Ou seja, entre aqueles trabalhadores, menos de 10% apresentam dificuldades na adequação a novos equipamentos ou rotinas. Todavia, a mesma pesquisa indica que esse diferencial deixa de existir se os trabalhadores daquela mesma faixa etária pertencerem a classes de menor renda e, portanto, commenor acesso ao ensino de qualidade, quando a dificuldade de adaptação cresce emquase 25%! 5 Aliás, mesmo tendo o Brasil iniciado o século passado com 65,1% de sua população com mais de 15 anos de idade sem saber ler e escrever e terminado com apenas 13,6%, em 2000, é fato inconteste que o tempo de permanência na escola ainda é crítico em nosso país, resultando em apenas 30% dos jovens com ensino fundamental con- cluído e pouco mais de 10% deles com acesso ao ensino superior 6 . Ora, sabendo-se que o tempo de permanên- cia dos alunos nas escolas está diretamente associado ao seu melhor aproveitamento num mercado de trabalho globalizado (BEHRMAN e SZEKELY, 1990), o que aumenta, portanto, sua empregabilidade, independentemente de qualquer outro fator, é possível entender as estatísticas desfavoráveis em nosso país: no ano de 2005, enquanto 60,6% dos analfabetos ocupavampostos informais de trabalho, 81,48% dos pós-graduados tinham emprego formal, com registro em carteira de trabalho 7 . Portanto, não apenas afetando a oportunidade de encon- trar e manter trabalho, mas, ainda, o acesso às melhores condições de trabalho durante a fase produtiva, não há como ignorar essa causalida- de entre educação e empregabilidade 8 . Empregabilidade para os jovens de baixa renda Alémde dificultar o caminho profis- sional, logo de partida, para aqueles jovens de baixa renda (que são a esmagadora maioria em nosso país), a ausência de educação formal traz consigo a dificuldade de que possam imaginar-se atémesmo trabalhando como micro ou pequenos empre- sários. Como consequência, temos uma realidade empreendedoramuito aquém do que poderia existir para fazer frente ao desemprego no Brasil, gerando novos postos de trabalho e forçando a qualificação profissional dos jovens. Isso porque, no caso brasileiro, as pequenas empresas são as maiores responsáveis pela contratação de empregados. No ano de 2002, por exemplo, do total de empregados, no Brasil, cerca de 39% mantinham vínculo com empresas de médio ou grande porte, enquanto os restantes 61% trabalhavam em micro e pequenas empresas 9 . De acordo com o Quadro 1, nota-se que não apenas os anos de escola, mas gênero e faixa etária também influenciam diretamente a maior ou menor facilidade de colocar-se no mercado de trabalho e, é claro, levam em consideração o local onde as oportunidades de trabalho são detectadas. Desse modo, a informa- ção precisa que se tem é a de que, independentemente das capitais pesquisadas, a faixa etária que Amassificaçãodoensino fundamental, no final desta década, trouxe uma péssima qualida- de em educação, o que dificulta a permanência dos jovens nos bancos escolares e os distancia, ainda mais, dos cursos de nível superior. M. Dueñas
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