MAI-JUN-2011
R E V I S T A D A E S P M – maio / junho de 2011 122 } Quando aos 22 anos, o jovem in- gressa em uma empresa, a maior par te da sua formação já está feita. É tarde demais para falar em com- por tamento, ética e atitude. ~ MÁRIO – O tema desta mesa-redonda não poder ia ser mais atual: empregabilidade. Gostaria de iniciar, sugerindo cinco tópicos de discussão: a formação técnica; o conhecimento daqueles que estão ingressando no mercado de trabalho, sejam eles formados em instituições de ensino de nível su- perior ou não; qual é a atitude e o comportamento dessas pessoas em termos de ética, maturidade e ime- diatismo; como eles se comuni- cam; e como vocês encaram o nível de informação desse pessoal em termos de uma informação rasa, produto de acesso à infinidade de possibilidades dos computadores, internet, Facebook, seja o que for, versus profundidade na formação escolar ou mesmo na formação paralela em termos de leitura. MONICA – A internet abriu a pos- sibilidade de acesso à informação. Hoje, é raro um jovem consultar um dicionário impresso. Ele tem acesso não só a informações como essa, mas sobre tudo o que aconte- ce no momento presente no mundo inteiro. Por outro lado, o uso da internet está levando a uma comu- nicação rasa, a começar pela forma como as pessoas escrevem, as con- trações e os conteúdos de Orkut e Facebook. Infelizmente, apesar do acesso ser maior, a tendência é que o jovem seja superficial. JOANA – As escolhas são diferen- tes das que o mercado de trabalho espera. As informações estão lá, não sei se todos têm acessado a situação na Líbia ou no Irã, mas estão interessados em temas que, para nós, são irrelevantes, como a vida de uma celebridade ou a música do momento. Os temas estão lá, mas a escolha não é tão pertinente. Outro dia, estive com sobrinhos, alguns em situação pré-vestibular, decidindo o que iam fazer, e, por curiosidade, per- guntei se já tinham ouvido falar da expressão “apagão de engenhei- ros” ou “apagão de talentos” e nin- guém sabia, inclusive, interpretar o tema. Jovens na faixa de 16 a 19 anos não conseguiram imaginar o que seria isso. Para mim o proble- ma é sim, raso, são muitas opções e a escolha não é acertada. NAPOLE – Eu tenho uma opi- n ião cont rá r ia. Traba l ho com informação e, certa vez, precisei fazer pesquisa em microfilme na Folha de S. Paulo e ficava durante horas pegando jornais velhos, frequentando bibliotecas; lem- bro quando usei o primeiro BBS (Bulletin Board System) em uma favela do Rio de Janeiro. Quando consegui me comunicar (por meio de um software que permite fazer ligações através do computador), achei aquilo o máximo. De lá para cá, a equipe que trabalha comigo é essencialmente de jovens, entre 21 e 26 anos, e o que percebo é uma terceirização da memória − nin- guém precisa mais ter memória. Antigamente, uma pessoa inteli- gente sabia tudo de cor. Hoje, uma pessoa inteligente acessa o Google ou qualquer outro mecanismo de busca e vai encontrar a memória em algum lugar. A dificuldade do jovem é em como lidar com esse excesso de informação, porque a informação, que pode ser boa ou ruim, está lá. A qualidade de informação aumen- tou, assim como a frequência que o jovema acessa. E amaior dificuldade desse jovem está em selecionar e fazer bom uso da informação. Outro dia, meu filho de 14 anos chegou com um cubo mágico e o montou em dois minutos na minha frente. Lembrei do meu cubo mág ico, que eu tinha de desmontar e colar novamente para dizer que havia resolvido. Quando perguntei aomeu filho como ele havia feito aquilo, ele contou que tinha uma instrução no YouTube – gastou duas horas no YouTube, seguiu os passos, treinou várias vezes e conseguiu fazer. Essa realidade é paradoxal, porque existe um excesso de informações, que eles acessam se quiserem. Portanto, o ponto é o que os motiva a acessar determinada informação. A moti- vação do jovem de hoje ocorre pelo prazer, por algo mais fortuito e não para descobrir uma informação que o leve a desenvolver-se. Percebo que omundo ficou pequeno e parece que o prazer tem muito mais valor. MARCO – A dificuldade está em articular o presente, os elementos
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