MAI-JUN-2011

maio / junho de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 123 } Como recrutadora do Google, fico surpresa com a qualidade dos prof issionais, mas estamos falan- do de uma minoria, uma elite. ~ que estão à nossa disposição, a questão é essa. Se perguntarmos ao jovem o que o motiva, tem, sim, a questão do significado e do pro- pósito. Mas é preciso saber articu- lar isso na família e também nos centros de educação. A questão não é o que tem disponível, mas como escolho e articulo isso. O jo- vem brasileiro tem dificuldade de articular e entender um elemento junto com outro e também de olhar para fora. Nos últimos anos, o Brasil lidou muito com a questão da subsistência. Por conta disso, talvez tenhamos deixado de arti- cular significado e sonho. Afinal, se estou preocupado somente com o superficial, com a subsistência, fica difícil conseguir congregar todas essas questões e ter profun- didade. Essa é a impressão que dá. MÁRIO – Neste caso, excesso não é uma palavra negativa, pois te- mos informação em abundância e quanto mais, melhor. Agora, como esse jovem não tem a capacidade de selecionar e separar o que é in- formação do que é conhecimento ou sabedoria, a quem cabe esse papel − à escola, às empresas com seus treinamentos? Estava lendo uma reportagem do Daniel Piza, no jornal O Estado de S. Paulo , dizendo que as notícias mais lidas do dia foram: Ivete Sangalo cai no palco, Rafinha Bastos causa polêmica após brincar sobre ór- fãos no Dia das Mães e elefante de filme sofreu maus tratos. E são fatos que nada significam, nada acrescentam na busca de algo mais profundo. MARCO – A questão da educação não está centrada só nas escolas, uni- versidades ou empresas. É o conjunto da sociedade, porque tudo educa – uma conversa com o pai, a mídia... A verdade é que existe um excesso da indústria do “nada”, da festa pelo nada, da futilidade. Para lidar com essa situação, todo o sistema – famí- lia, escola, empresa – precisa assumir sua responsabilidade no processo. A empresa, por exemplo, ao trabalhar visando apenas o resultado, pode gerar um processo educacional da futilidade. Omesmo ocorre em casa, com a televisão e a internet, que per- mitem o acesso a tudo aquilo que é fútil. Para mudar esse panorama, o esforço tem de ser conjunto. MONICA – Concordo. Quando aos 22 anos, o jovem ingressa em uma empresa, a maior parte da sua formação já está feita. É tarde demais para falar em comporta- mento, ética e atitude. O que a empresa faz é selecionar pessoas que tenham um perfil e valores alinhados e compatíveis com os seus. Querer se transformar é uma decisão muito pessoal e, prova- velmente, a pessoa terá de passar 30, 40 ou até 50 anos lutando para ter um comportamento diferente. Essa é a única ressalva que faço em relação ao papel da empresa nesse processo. MÁRIO – Hoje, a cada dez forman- dos, onze vão trabalhar no Google, uma das empresas mais admiradas e idealizadas. Como você encara a formação dessas pessoas, princi- palmente das 40 que são selecio- nadas, mas ficam no funil? MONICA – Normalmente, esses 40 são profissionais excepcionais. Na hora em que você seleciona esses

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