MAI-JUN-2011

R E V I S T A D A E S P M – maio / junho de 2011 130 } A empresa, por exemplo, ao trabalhar, visando apenas ao resultado, pode gerar um processo educacional da futilidade. O mesmo ocorre em casa, com a televisão e a internet, que permitem o acesso a tudo aquilo que é fútil. ~ Fiat de lá, um estudante alemão perguntou a ele por que tinham aquele padrão de qualidade e como todos trabalhavam 14 horas por dia ou mais, eles deveriam preocu- par-se mais com os funcionários. Ele, que é turco, respondeu que os países do primeiro mundo já atingiram um padrão de produti- vidade e organização da sociedade que podem se dar ao luxo de às 17 horas encerrar a briga pela vida e ir para casa descansar. Um funcio- nário na Turquia está competindo com inúmeros países desenvolvi- dos, então não podemos tirar de perspectiva também que estamos num país que está inserindo-se globalmente. Na consultoria não posso negar que as pessoas tra- balham bastante, somos contra isso, mas muitas vezes é inevitável porque você não está competindo contra outras empresas cujo tra- balho se encerra às cinco horas da tarde. Quando você está numa competição global, se um chinês trabalha de domingo a domingo e tem quatro horas por semana para descansar, ele impõe um certo ritmo de produtividade que de alguma forma chega até você. MONICA – Se contrato uma con- sultoria, para mim, tanto faz se eles estão trabalhando duas ou 20 horas por dia, o que eu quero é que o resultado final seja bom. NAPOLE – Concordo, mas nem sempre o resultado final é possível só com uma capacidade intelectual acima da média. Por exemplo, es- tima-se que a China ultrapassará Estados Unidos e Japão em número de registro de patentes. Por que eles estão sendo tão rápidos e há- beis na inovação e no registro de novas patentes? Estive na China e em Hong Kong e vi o ritmo de tra- balho deles − é absurdo. Se lá o ser humano vale pouco, ele força você a ter de competir numa condição criativa para conseguir vencer certos competidores. Sou contra isso, mas no mundo competitivo, na hora em que o aluno sai da aula e volta para o trabalho, ele não está voltando porque o chefe quer que volte, mas porque tem uma empresa com uma demanda, que quer um determinado resultado e está competindo com outras partes do mundo que têm outras formas de trabalhar. O mundo vem se dividindo em dois: um lado hedo- nista, que quer qualidade de vida; e uma massa de bilhões de seres humanos, que estão se matando por um lugar ao sol para comprar um tênis, para comer carne... Isso acaba impondo um ritmo aluci- nante ao nosso planeta. MÁRIO – A Joana comentou sobre as pessoas de 19 anos que são ima- turas. Há quatro temas que pode- ríamos trabalhar mais facilmente aqui: a questão da maturidade, do trabalho em grupo, da ética e do imediatismo. Como vocês veem isso, se compararmos com 30 ou 40 anos atrás? Apenas uma dica: aqui é muito comum, no final do semestre, os alunos da gradua­ ção serem acompanhados pelos pais, coisa que na minha época de Getulio Vargas, em 1968, era inad- missível. Se meus pais viessem à escola comigo para reclamar do professor, eu pularia do 7 o andar e morreria de vergonha. MARCO – Outro dia li uma pes- quisa grande falando sobre os va- lores do jovem brasileiro. Fizeram um recorte da população brasileira de jovens e uma das coisas que me chamou a atenção foi a questão de o brasileiro tomar o pé e respon- sabilizar-se, ser protagonista. Às vezes, dentro das empresas, se en- contram culturas diferentes, por- que você é influenciado por ques- tões internacionais, mas o povo brasileiro tem uma dificuldade em responsabilizar-se pelos próprios atos. Isso passa por questões éticas e morais. E a outra coisa que me chamou atenção é que sempre a sociedade brasileira é perversa e

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