MAI-JUN-2011

maio / junho de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 131 } Querendo ou não, a empresa educa, já que dá uma direção para a pessoa, ar ticula valores e uma série de questões. ~ prostituída – é o deputado que leva dinheiro etc. Existe um descrédito nas instituições, ao mesmo tempo que sou vítima dessas instituições. Esse é o coração dessa discussão. Como se lida com isso? MONICA – O que mais me preocupa não é o deputado que está roubando, é o aluno que vai tentar oferecer um dinheiro ao guarda quando recebe uma multa. A população brasileira está o tempo todo apontando a falta de ética lá fora, quando uma grande parte das pessoas acha determina- das atitudes normais. Certa vez, na faculdade fui falar com a professora porque não tinha entendido um ponto e ela perguntou se eu queria que aumentasse a minha nota. Não. Eu só queria entender a nota. Mas disse isso porque está acostumada com os alunos que vão mendigar meio ponto. Novamente voltamos para os valores. Se não mudarmos isso, vamos ter sérios problemas. NAPOLE – Temos duas identida- des: a de cidadão e a de profissio- nal. A sua identidade de cidadão começa dentro de casa, avança pela escola e por toda sua vida. Já a identidade de profissão vai sendo formada e adaptada ao longo da carreira. É o coração da escola, mas não se pode abandonar a iden- tidade do cidadão. Ética e valor são mais importantes do que isso de usar o “nós”, que está fora de moda. Falamos em responsabili- dade social, mas nos acostumamos a passar na rua e aceitar qualquer condição que se veja. Lembro da história de um professor que veio criança da Polônia para o Brasil com a mãe. Quando ela colocou os pés no Brasil, viu um mendigo pedindo esmola. Ela começou a berrar pela polícia, dizendo que não se podia deixar uma pessoa passar fome na rua daquele jei- to, que o Estado tinha de fazer alguma coisa. Então, já estamos acostumados com o bode na sala – vivemos uma guerra civil, uma desigualdade social enorme, mas o bode está na sala há tantos anos que ninguém questiona mais. Esse é o problema: a nossa indiferença, que muitas vezes nos coloca numa posição cômoda – é melhor prote- ger meus filhos num carro blin- dado, numa escola bem protegida e depois estudar numa faculdade de primeira. Não conheço uma pessoa que more em prédio e não tenha problemas dentro do próprio condomínio, mas as discussões dentro do próprio condomínio praticamente não acontecem. MARCO – Teríamos umganhomuito grande se pudéssemos investir nos diálogos de cidadania. A educação deveria ser algo nessa esfera. Hoje se fala muito dos cursos técnicos e acredito que precisamos investir. Mas se investirmos somente nessa direção sem investir nas questões de ética e cidadania, continuamos seguindo de forma medíocre. É preciso aprender a lidar com as pessoas que estão do lado. Aqui está a crise de cidadania. NAPOLE – Dentro da escola, se existe uma zona cinzenta, ela pre-

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