MAI-JUN-2011

R E V I S T A D A E S P M – maio / junho de 2011 144 FÁTIMA MOTTA Doutora em Ciências Sociais, professora do Núcleo de Gestão de Pessoas da ESPM. Sócia-diretora da F&M Consultores. ES PM existe uma grande concentração da carga horária em aspectos técnicos e pouquíssima atenção a essas com- petências que eu chamaria de essenciais para a real empregabilidade dos indivíduos. É comum temas que façam os alunos pensarem ou que exijammais de aspectos voltados ao “humano” seremainda tratados comomenos importantes. Assim, esses assuntos ficam encruados no de- senvolvimento dos profissionais e desabrocham em momentos inoportunos, mostrando sua ausência na construção da empregabilidade. Seguramente, os aspectos técnicos desenvolvi- dos nas escolas, nos cursos de graduação, MBA ou pós-graduação são especialmente importan- tes para a empregabilidade, mas precisam ser ministrados com rigor e disciplina para que a aprendizagem efetivamente aconteça. Isso não quer dizer inflexibilidade, muitomenos falta de observação em relação a todamudança tecnoló- gica envolvida na aprendizagem, mas relaciona-se à estruturação de conteúdo, à participação e cobrança dos alunos, não como clientes de um negócio que precisa gerar lucro, mas sim de aprendizes que precisam desenvolver tarefas, aplicarem-se muito, para de fato tornarem-se competentes e empregáveis. Diante disso, percebe-se que não é exatamente essa a realidade observada nas escolas de uma maneira geral, seja pela questão dos conteú- dos programáticos que discutem pouco sobre questões mais essenciais à escolha e à vida dos alunos, como seres humanos, seja pela avaliação pouco rigorosa dos alunos. Revisão profunda dos conteúdos programáticos à luz dessas competências, leituras, trabalhos, discussões profundas e relevantes em sala de aula, que possibilitem o conhecimento con- ceitual e a compreensão da aplicação prática poderiam garantir, em algum grau, uma maior empregabilidade dos atuais profissionais. Para tanto, professores e escolas precisariam estar mais próximos das reais necessidades dos profissionais e das empresas, reconhecendo os resultados positivos da formação até agora dada, avaliando criteriosamente os gaps esta- belecidos e, munidos de coragem, realizar uma transformação pedagógica, comvistas à empre- gabilidade no seu sentido mais amplo, ou seja, o de ajudar pessoas e empresas a alinharem-se em direção a uma sociedade mais sustentável. Por outro lado e talvez mais importante, é a consciência de cada indivíduo emrelação às suas escolhas e a si próprio, buscando ser empregável não porque a sociedade lhe impõe essa neces- sidade, mas, sobretudo porque precisa e quer ser útil, na medida em que põe à disposição da humanidade os seus talentos. É essemovimento que, como Ramy Arany explica no livro Visão gestadora , vem de dentro para fora e permite ao profissional gestar sua empregabilidade, a partir do reconhecimentoda sua forçapessoal, dos seus talentos e, assim, garantir quepartede suamissão de vida seja concretizada, ao mesmo tempo em que ajuda na sustentabilidade do negócio, da empresa e da sociedade em geral. SENNETT , Richard. A Corrosão do Caráter, consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo – São Paulo, Record, 2003 ARANY , Ramy. Visão Gestadora – A Visão em Teia – São Paulo , KVT, 2008 BIBLIOGRAFIA São comuns situações que façam os alunos pensaremqueas relações easpectos huma­ nossãomenosimportantesemsuaformação profissional. Mostrando essa ausência na construção de sua empregabilidade, esses novos profissionais tomamatitudes precipita­ das emmomentos inoportunos, o que leva a umpéssimodesenvolvimentoemsuacarreira.

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