MAI-JUN-2011

R E V I S T A D A E S P M – maio / junho de 2011 150 variada, acompanhando o aprofun- damento da globalização econômica a partir de meados dos anos 80 2 . E aqui encontramos uma convergên- cia entre avanço tecnológico e o “espírito do tempo” Weberiano: a conexão constante e a explosão de informações são a contrapartida da democratização das sociedades e da precarização das relações de trabalho que acompanharam a globalização. Expostos a estas contradições − de um lado um enorme poder de se fazer ouvir, por meio das tecnologias que dominam muito mais do que as autoridades estabelecidas (no governo, no mercado, na empresa, em casa), do outro uma tremenda pressão para criar um projeto de vida capaz de resistir à existência de padrões de consumo cada vez mais efêmeros e onipre- sentes, e fluxos globais de investimento –, esses jovens criam referências e comportamentos muito distantes dos seguidos por seus pais, gestores e professores. Em dois aspectos essas diferenças são particu- larmente evidentes 3 : na questão da privacidade e no da busca por autonomia. Os jovens atuais, tanto quanto nós, Baby boomers , não foram preparados para lidar com o fato de que seu comportamento nas redes digitais deixa rastros “eternos”, e que podem ser compartilhados de forma quase instantânea ao redor do pla- neta. A tecnologia passa a ser um “arquiteto da intimidade” (Turkle, 2011). A diferença é que os jovens buscam entendê-la, enquanto a maioria das instituições erigidas pelos seus pais (escolas, empresas e governos), tentam negá-la ou controlá-la. Não vai dar certo, até porque no caso brasileiro esses jovens viveram uma realidade distinta: nas classes média e média baixa são em boa parte filhos de ca- sais nos quais o pai e a mãe trabalham fora, e aprenderam muito cedo a “negociar” estas ausências e fazer as coisas por conta própria. Mas do ponto de vista econômico, as possi- bilidades de novas formas de buscar (e en- contrar), autonomia são as mais fascinantes e desafiadoras. Façam a experiência no trabalho ou na sala de aula: apresentem uma afirmação “escrita em pedra”, uma “verdade inquestio- nável”, e em pouco tempo alguém vai apre- sentar um contra-exemplo. Pode não resistir a uma investigação mais cuidadosa, mas é um comportamento distante da passividade que marcava estes ambientes nos anos 80 ou 90. O fenômeno tem a ver com a democratização da sociedade emgeral, mas tambémcomamelhor distribuição da informação: antes restrita aos gerentes ou professores que passavam anos sabendo como adquirir e usar conhecimento, agora ela se encontra acessível de maneira qua- se instantânea. Com alguns cliques do mouse é possível encontrar material completo dos cursos de MIT ou Harvard, artigos detalhados sobre os mais variados tipos de mercado, dicas de comportamento nas empresas ou instruções sobre os mais variados tipos de máquinas, softwares etc. A contrapartida da explosão de dados é o aumento da obsolescência da informação, e o mundo das marcas, do trabalho e da sala de aula é o campo de testes onde os jovens vão testar a perenidade ou não do conhecimento. A marca “A” afirma que se preocupa com o meio ambiente, mas em poucos minutos descobrimos que isso não vale para os países periféricos, com leis ambientais mais frouxas, por exemplo. Ou a empresa “B” afirma que Pesquisa realizada pelo Datafolha para o F/Ra- dar, em novembro de 2010, mostrou que a principal atividade na in- ternet entre usuários de até 34 anos é o acesso aos programas de men- sagem instantânea e redes sociais, enquanto que a busca de notícias e informações em sites de empresas de comu- nicação (portais etc.) é aatividadeprincipalpara osusuáriosacimadessa faixa etária.

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