MAI-JUN-2011

R E V I S T A D A E S P M – maio / junho de 2011 40 } Minhas prioridades de vida são claras: nada para mim é mais impor tante do que os meus f ilhos. ~ forma tão drástica, tão errada, que omercado de trabalho perdeu esses jovens que nasceram de famílias da famosa “geração X” e viram os pais perdendo seus empregos da noite para o dia. São profissionais que foram dormir orgulhosos por trabalhar 30 anos na mesma empresa e acorda- ram envergonhados disso, porque muito tempo de empresa passou a ser sinônimo de acomoda- ção e falta de ambição. E essa mudança fez com que os mais jovens percebessem: “Se mudou a regra do jogo, também vou mudar. Quero qua- lidade de vida, não vou me dedicar cegamente ou deixar minha carreira namão da empresa”. E isso trouxe uma grande transformação, porque antigamente aprendíamos com os nossos pais a aguardar sermos reconhecidos pelo trabalho, com uma promoção ou um aumento salarial e, quando isso não vinha, nos magoávamos, mas não tínhamos nem a coragem de falar que estávamos chateados, porque fomos ensinados a respeitar uma hierarquia, mas ensinamos aos nossos filhos uma coisa diferente. Dentro de casa, a conversa entre pais e filhos passou a ter uma linguagemmais solta, fluida, de amigos, até porque vivemos nummundo onde a violência e as drogas sãomuito diferentes da nossa infância. Os pais hoje têm de estar muito próximos aos seus filhos para entender o que acontece com eles. Nós, por culpa de passarmos muito tempo fora de casa e não acompanhar de perto a for- mação dos nossos filhos, damos tudo de mão beijada. Falamos pouco “não”, não colocamos limites, não damos pequenos desafios para os nossos filhos. E isso causa essa imaturidade. Atualmente, os jovens dizem com muita vee- mência: “Não sei o que eu quero, mas sei o que eu não quero: seguir a carreira dos meus pais”. No passado, seguir a mesma profissão do pai, muitas vezes, era motivo de orgulho. FRANCISCO – Isso não é bom. SOFIA – Todo extremo não é bom. O jovem de hoje, na sua imaturidade, não tem resistência à frustração e, num primeiro momento, pede de- missão e vai embora porque não sabe lidar com os “nãos” nomercado de trabalho. Antigamente, era um fenômeno um trainee pedir demissão, e ser mandado embora era uma vergonha. Hoje isso é muito mais fluido, porque todos estão numa busca constante por uma realização, por umprazer que às vezes nemsabemqual é. Então, ficam correndo atrás de alguma coisa, numa es- pécie de tentativa e erro, como no videogame: se errou, reseta e começa novamente. Eles reprodu- zem isso tambémna faculdade, quando entram e não sabem o que querem, saem e começam outro curso. Há jovem começando três, quatro faculdades até se encontrar. LUIZ FERNANDO – Estamos falando de um perfil da classe média alta? SOFIA – Não. LUIZ FERNANDO – Em classes populares você também encontra isso? SOFIA – Sim. NoMcDonald’s, por exemplo, 85% da força de trabalho deles são jovens entrantes com16 anos. Classe Dnamaior parte das vezes, jovens com muita dificuldade financeira que moramem favelas ou emsituações bemdifíceis. E o índice de rotatividade deles tambémcresceu assustadoramente, sendo que, no primeiro pro- blema com o chefe, ele vai embora mesmo não tendo o que comer em casa. LUIZ FERNANDO – Alguns RHs acabam dizendo que, às vezes, o perfil da classe média alta temesse comportamento ainda mais acentuado e que os jovens de classes populares lutam por espaço, se agarram e têm na oportunidade um comprometi- mento maior. E N T R E V I S T A

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