MAI-JUN-2011

maio / junho de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 41 } O que passou a valer foi a empregabilidade, o resultado, o desempenho, o quanto você traz de retorno para essa empresa. ~ SOFIA – Eles já apanharam mais da vida, nor- malmente não têm um lar constituído de forma tradicional com pai e mãe. Mas percebe-se que eles têm a necessidade de percebimento tão grande como os outros. Como primeiro salário, as pesquisas mostram que eles compram um tênis Nike ou um celular, quer dizer, em busca de pertencer a uma categoria da sua idade. Nesse ponto são tão jovens e imaturos como qualquer outro. Sou absolutamente contra se estereotipar qualquer nível, todos os níveis têm pessoas ab- solutamente maduras e imaturas. LUIZ FERNANDO – Existem tendências, na verdade. SOFIA – Existem, mas essa busca pelo prazer, por uma satisfação é igual em todas as classes sociais e essa inquietude para descobrir qual é esse lugar, também é igual. LUIZ FERNANDO – Uma das definições que ouvi sobre este momento, e que reflete isso, é que tínhamos uma formação da poupança. Éramos levados a primeiro poupar e depois usufruir. Hoje temos a sociedade do crédito que, a partir do momento que se tem o potencial do con- sumo, se consome primeiro e depois pede a conta, até porque não haverá amanhã. SOFIA – Perfeito, essa é a grande correlação. O dia 11 de setembro foi um impacto na vida dessa juventude, quer dizer, se não sei se, dois minu- tos depois, voltarei para casa, se vejo um metrô explodindo na Espanha, um avião batendo e matando milhares de pessoas, se eu não tenho essa relação de futuro, como pensar no amanhã? Penso no amanhã, na busca de querer saber aonde vou chegar, mas estou preocupado em viver a felicidade hoje e não amanhã. Primeiro, pego a prancha e vou surfar. Depois vejo como pago a conta ou meu pai paga para mim. FRANCISCO – Dizemque os jovens de hoje são mais individualistas. SOFIA – Não sei, tenho dúvidas sobre isso. O jovemde hoje é apolítico, ele não se engaja mais naquela coisa do coletivismo e idealismo político comono passado, mas aceitamenos a questão da discriminação, seja racial, seja sexual ou religio- sa. Se ele se sentir violentado nos seus valores, faz um levante se precisar, por uma causa. LUIZ FERNANDO – Presencial ou virtual. SOFIA – Em um Programa de Trainees, tive- mos um caso que ilustra bem essa questão da individualidade ou não. Fizemos a implantação de um programa novo para uma multinacional americana e oferecemos dez vagas de trainees que ficavam em dez cidades distintas no Brasil, ou seja, não eram aqueles jovens que ficam co- lados na mesma sala. Começaram o programa de desenvolvimento muito felizes e três meses depois recebemos ume-mail de umdeles dizen- do: “Por favor, desbloqueiema gente do banco de dados porque queremos participar do programa que vocês agora estão fazendo para a Johnson’s”. Achamos aquilo estranho. No mesmo dia rece- bemos a ligação de uma trainee dessa empresa dizendo que todos estavammuito insatisfeitos e queriam ir embora porque o diretor da empresa disse a umdeles que estavamdesenvolvendo um projeto que não existia. Liguei para a diretora de RHda empresa, contei oque estava acontecendo. Ela respondeu que estava num dilema porque eles a tinhamquestionado, ela fez uma auditoria e constatou que o suposto projeto realmente não existia. Como já tinham descoberto outras irre- gularidades, decidiram tirar o diretor financeiro, S o f i a E s t e v e s

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